Uma carta que alegadamente foi psicografada por um médium e ditada pela cantora Cássia Eller, falecida em 2001, está a circular na internet. A mensagem começa com uma descrição angustiante de Cássia falando sobre uma experiência no que é conhecido como “umbral” na doutrina espírita, um lugar de purgação espiritual. Segundo essa carta, Cássia descreveu esse período sombrio em detalhes, explicando que estava imersa em uma escuridão fria, um lugar interno que a consumia, sem luz ou paz. Ela fala sobre a sensação de estar afogando-se em uma substância viscosa, uma ilustração de sua alegria ilusória sendo roubada a cada momento.
O Lar de Frei Luiz, um centro espírita bem conceituado no Rio de Janeiro, confirmou a autenticidade da carta, afirmando que ela foi psicografada por um médium durante uma reunião sobre dependência química realizada em maio. No entanto, o presidente da instituição, Wilson Pinto, observou que não é comum para eles divulgar essas psicografias, pois são assuntos internos da casa. Eles também não informaram a família da cantora sobre a carta, que é um procedimento padrão no centro espírita.
A carta continua descrevendo a estada de Cássia no umbral, um lugar associado à expiação espiritual na doutrina espírita. Ela menciona sua perplexidade por estar nesse lugar, questionando por que estava lá se acreditava não merecer esse destino infeliz. Cássia narra momentos de raciocínio desequilibrado e crises de abstinência que a impediam de encontrar a saída daquele campo de penitência espiritual.
Após anos no umbral, a carta descreve que Cássia finalmente encontrou a paz. Ela despertou em um campo verdejante e sereno, onde o cenário parecia um sonho. Ela ouviu o canto de um pássaro, que a tirou do pesadelo que se acostumou a viver. Nesse lugar de calmaria, Cássia afirma ter encontrado Cazuza, a quem ela se refere como seu “ídolo”. Ele teria cantado uma canção para ela.
A mensagem termina com o suposto espírito de Cássia relatando que foi levado para um “hospital” espiritual, onde se recupera dos traumas e cicatrizes que criou. Ela menciona que sua próxima encarnação será dolorosa, enfrentando condições como asma, deficiência mental e tuberculose. Ela expressa sua determinação em estudar e reconhece a necessidade de aprender lições valiosas. Cássia afirma que reencarnará em uma comunidade carente no interior do Brasil, passando por muitos desafios para despertar o valor espiritual na pobreza e na doença crônica.
A carta suscitou debates entre a comunidade espírita. João Rabelo, diretor de marketing da Federação Espírita Brasileira, observou que é difícil confirmar a autenticidade de mensagens psicografadas, destacando a famosa frase de Chico Xavier de que “o telefone toca de lá para cá”. Ele explicou que o médium age como um intermediário, mas a identificação do espírito é uma tarefa complexa, especialmente para médiuns menos experientes.
Rabelo também mencionou que as cartas psicografadas passam por uma triagem nas reuniões mediúnicas, onde um dirigente avalia a importância da mensagem. Se a mensagem for considerada significativa, é enviada para a direção do centro espírita, que decide se deve ser divulgada. Ele enfatizou que a qualidade do trabalho do médium, a seriedade e a pureza da mensagem são críticos na avaliação, além de estar em conformidade com os padrões da codificação espírita baseada nos ensinamentos de Jesus.
Gerson Monteiro, presidente da Rádio Rio de Janeiro, especializada em conteúdo espírita, argumentou que é possível identificar a veracidade de uma mensagem psicografada pela análise da linguagem e da assinatura do espírito. No entanto, ele também reconheceu que no caso de Cássia Eller, a identificação era mais desafiadora porque ela não era uma escritora reconhecida e não tinha um estilo distinto de escrita. Monteiro ressaltou que a linguagem do espírito pode indicar seu nível espiritual.
Ele também mencionou que é comum receber mensagens apócrifas que não são autênticas, e a familiaridade do médium com a doutrina espírita é fundamental para evitar equívocos.
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, apesar de achar trechos da carta “muito bonitos”, expressou ceticismo em relação à psicografia. Ela afirmou que desde a morte de Cazuza, há 25 anos, recebeu várias cartas atribuídas a ele, mas em nenhuma reconheceu seu filho.
O EXTRA tentou entrar em contato com a ex-companheira de Cássia Eller, Maria Eugênia Martins, que preferiu não comentar o assunto por considerá-lo “uma questão muito pessoal”.
Existe a divulgação de uma alegada carta psicografada de Cássia Eller, onde ela descreve sua experiência no umbral, sua recuperação espiritual e suas expectativas para a próxima encarnação. A autenticidade dessas psicografias é um tópico de debate na comunidade espírita.