Nos primeiros meses de gravação da novela A Viagem (1994), a Christiane Torloni, que interpretava a Diná, passou por uns perrengues bem esquisitos. Ela contou que vivia num apartamento antigo durante esse período e começou a sentir uns negócios estranhos acontecendo. Tipo, quadros caindo, barulhos no meio da noite, campainha tocando sozinha… Imagina o susto! A atriz, que não se impressiona fácil, começou a ficar incomodada, ainda mais sabendo que a novela tratava de temas espíritas. Isso só foi resolvido depois que a família de Wolf Maya, diretor da novela e seguidor do espiritismo, fez uma oração pedindo “licença” pros espíritos, e as coisas finalmente acalmaram.
Esse relato foi feito no programa Conversa com Bial, numa edição especial que celebrou os 30 anos da exibição de A Viagem. Além da Christiane, o Antônio Fagundes, que interpretava o Otávio Jordão, também participou e, juntos, eles relembraram momentos da novela e de outros projetos, como a peça de teatro Dois de Nós, que estão estrelando atualmente em São Paulo.
A Christiane tinha acabado de voltar pro Brasil quando a novela começou a ser gravada. Ela estava em Portugal, onde ficou por um tempo depois da trágica morte do seu filho, Guilherme. A atriz aceitou fazer a novela porque pensava que era uma comédia, acredita? O Wolf Maya meio que deu uma enganada nela, porque sabia que, se dissesse a verdade – que a trama era um drama pesado –, ela provavelmente teria recusado o papel.
Ainda sem saber bem no que tinha se metido, Christiane se mudou correndo pra esse apartamento antigo e começou a gravar. Foi aí que os tais “fenômenos” começaram a acontecer. Ela contou no programa que a casa parecia “viva”. Tinha umaqueles botões antigos que, quando apertava, avisava na cozinha onde alguém tava chamando, e eles começaram a tocar sozinhos de madrugada. “Quarto 1, quarto 2… Caía coisa na sala. Eu nunca fui de me impressionar fácil, mas aquilo começou a me deixar exausta”, explicou ela.
Em certo momento, a Christiane ligou pro Wolf Maya e perguntou se eles tinham pedido licença pra realizar aquele trabalho. Ela acreditava que, como estavam lidando com algo real, que envolvia espíritos e essas coisas, seria importante fazer uma mentalização, uma preparação espiritual. Ela falou: “Wolf, a gente pediu licença pra fazer esse trabalho? Porque a casa não fica em paz, e eu tô muito cansada.” O diretor, então, organizou uma oração com sua família espiritualista e, depois disso, os fenômenos estranhos pararam.
Com o tempo, a situação foi melhorando. E, mais ou menos no meio da novela, a Christiane começou a receber cartas de fãs. Muitas dessas cartas eram psicografadas e traziam mensagens de conforto, dizendo que ela estava no caminho certo e que a novela ia ajudar muitas pessoas. Isso fez toda a diferença pra ela, que estava num momento complicado da vida.
No programa, Pedro Bial perguntou se a atriz respondia essas cartas. Ela contou que não respondia diretamente, mas orava por aquelas pessoas. “Eu orava, que é a ferramenta que a gente tem”, disse ela, destacando o quanto acreditava nas mensagens que recebia. Pra Christiane, A Viagem não foi só uma novela qualquer. Ela realmente enxergava o projeto como algo que trazia conforto e paz, tanto pros telespectadores quanto pra ela mesma. “A Viagem é um antídoto pra dor. Foi pra mim. Passou por mim”, concluiu emocionada.
Esse relato traz à tona o quanto a novela tocou as pessoas na época e ainda toca, sendo um dos marcos da teledramaturgia brasileira. Além de todo o sucesso, A Viagem deixou uma marca profunda no coração de quem participou e de quem assistiu, misturando ficção e fé de uma maneira única.