Bebê morre após tribunal decidir desligar aparelho de ventilação mecânica

Na última quinta-feira (15), um episódio envolvendo um bebê de um ano chamou a atenção do Reino Unido e levantou debates sobre os limites da medicina e os dilemas éticos em decisões de vida ou morte. Ayden Braqi, diagnosticado com uma doença neuromuscular grave e incurável, teve os aparelhos que o mantinham vivo desligados após uma decisão da Suprema Corte britânica. O caso gerou comoção e dividiu opiniões em todo o país.

O início de uma luta difícil

Ayden foi internado no Hospital Great Ormond Street, em Londres, aos três meses de idade, após o diagnóstico de uma condição neuromuscular progressiva que comprometia severamente suas funções motoras e respiratórias. Desde então, ele dependia de ventilação mecânica para sobreviver, e os médicos afirmaram que não havia chances de melhora.

Apesar do quadro clínico crítico, a família de Ayden defendia que ele estava “cognitivamente intacto”. Segundo relatos, ele conseguia responder a estímulos, como ver, ouvir e até cheirar, o que, para seus parentes, demonstrava sua capacidade de interação com o mundo à sua volta.

O apelo da família

Nas redes sociais, parentes e apoiadores da família fizeram campanhas emocionadas pedindo que Ayden tivesse a chance de ser levado para casa e receber cuidados familiares. “Respeito o conhecimento dos médicos, mas discordo da decisão de remover o suporte de vida. Ayden tem uma família que o ama e está disposta a cuidar dele”, disse uma mãe de outro paciente com condição semelhante, em uma publicação que viralizou.

Esse apelo, no entanto, não foi suficiente para mudar o curso dos acontecimentos.

A decisão da Justiça

O caso foi levado à Suprema Corte depois que o hospital entrou com uma solicitação para interromper o suporte de vida. Segundo os advogados da instituição, os tratamentos já não ofereciam benefícios significativos ao bebê, e continuar com eles apenas prolongaria seu sofrimento.

Na quarta-feira (13), a juíza Morgan deu seu veredito: os aparelhos deveriam ser desligados, pois essa seria a decisão mais alinhada aos interesses de Ayden. “Embora ele encontre conforto na presença da família, os fardos de sua doença e dos tratamentos superam esses benefícios. Prolongar sua vida seria prolongar também seu sofrimento”, declarou a magistrada.

No dia seguinte, os aparelhos foram desligados, e Ayden faleceu pouco tempo depois.

Reflexões éticas e emocionais

Casos como o de Ayden abrem espaço para discussões profundas e complexas sobre até onde a medicina deve ir para prolongar a vida. Por um lado, há o desejo da família de manter a esperança viva, mesmo diante de um diagnóstico tão grave. Por outro, existe a avaliação técnica dos médicos sobre a qualidade de vida e o sofrimento do paciente.

O hospital afirmou, em nota, que todas as decisões foram tomadas com base no melhor interesse da criança. Eles destacaram ainda que Ayden recebeu cuidados individualizados durante toda sua internação. Entretanto, a mãe do bebê, Neriman Braqi, expressou sua dor e discordância. “Lutei com todas as minhas forças pelo meu filho. Não foi apenas uma questão de medicina, mas de amor e humanidade”, disse em entrevista à BBC.

Um debate que não é novo

O caso de Ayden lembra o de Archie Battersbee, ocorrido também na Inglaterra em 2022. Archie sofreu um grave acidente que o deixou em estado vegetativo. Sua família lutou até o fim para mantê-lo vivo, mas a Justiça autorizou o desligamento dos aparelhos, o que gerou protestos internacionais.

Essas histórias mostram como essas decisões dividem a sociedade e deixam cicatrizes profundas tanto para as famílias quanto para os profissionais de saúde envolvidos.

Sem respostas fáceis

O desfecho de Ayden Braqi traz à tona questões delicadas: quem deve ter a palavra final em casos extremos como este? Até que ponto é justo prolongar a vida de alguém que não tem perspectiva de cura?

Embora a medicina continue avançando, dilemas éticos como esse permanecem sem respostas simples. Entre a ciência, a ética e o amor de uma família, encontrar o equilíbrio ideal ainda é um dos maiores desafios enfrentados por todos os envolvidos.

Se há algo que essa história ensina, é que, em situações como essa, não existem vencedores. O caso de Ayden reforça a necessidade de debates transparentes e empáticos, para que decisões tão difíceis sejam tomadas com o máximo de respeito e cuidado possível.



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