Morto a tiros, estudante e MC de 22 anos compôs música sobre assassinato em SP: ‘Vazio’

A madrugada da última quarta-feira (20) trouxe um episódio trágico que chocou São Paulo: o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto com um tiro à queima-roupa disparado por um policial militar. Segundo as autoridades, o incidente teria começado após o jovem supostamente dar um tapa no retrovisor de uma viatura e correr em direção a um hotel na Vila Mariana.

Mas quem era Marco Aurélio? O jovem, filho caçula de médicos peruanos naturalizados brasileiros, vinha seguindo os passos da família ao cursar medicina. Ele era o orgulho de casa, com irmãos já formados na área e uma trajetória promissora pela frente. No entanto, Marco não era apenas estudante; ele também explorava outra paixão: a música.

Sob o nome artístico de MC Boy da VM, Marco se aventurava no universo do rap e do funk, usando sua voz para expressar dores e inquietações sociais. Uma de suas composições mais conhecidas, disponível no YouTube, fala sobre a perda de um amigo morto por policiais. Em um trecho, ele canta:

“Quando um amigo morre, deixa um vazio na alma.
Sentimos falta das conversas, momentos de risada.
Ô, meu aliado, você vai deixar saudade.
Amigos nós seremos, pra toda eternidade.
Inevitavelmente, o que aconteceu?
Tremenda injustiça com um amigo meu.
Morto a tiros pela polícia na porta de casa,
ele era trabalhador e nem mexia em fita errada.”

Ironicamente, as palavras que Marco escreveu para lamentar a perda de um amigo agora ressoam como uma premonição de sua própria história. A tragédia mobilizou debates sobre violência policial e abusos de autoridade, questões que continuam dividindo opiniões no Brasil.

A dor de uma mãe em busca de justiça

Outra perda recente que abalou o país foi a do ex-ator mirim João Rebello, morto a tiros aos 45 anos no sul da Bahia, em plena luz do dia. Um mês após o crime, sua mãe, Maria Rebello, finalmente encontrou forças para se pronunciar publicamente sobre a tragédia, compartilhando um desabafo profundo e emocionado em vídeo no Instagram na última terça-feira (19).

João foi assassinado em Trancoso, um dos destinos turísticos mais conhecidos do Brasil, enquanto estava dentro de seu carro na Praça da Independência. Segundo Maria, o crime ocorreu devido a um erro trágico: os criminosos teriam confundido o veículo de João com o de outro homem que era o alvo real.

“Doze tiros são muito rápidos, mas a Justiça é muito lenta”, declarou Maria, com voz embargada de revolta. “Meu filho foi executado porque tinha um carro igual ao de alguém que eles queriam matar. Virou faroeste por lá… onde ele morava, onde só queria comprar café da manhã para o dia seguinte.”

Maria relatou ainda como tudo aconteceu: “Eles vieram por trás, já atirando. Estavam de tocaia, esperando o carro certo, mas erraram o alvo. Deram 12 tiros no meu filho.”

A história de João Rebello é mais um lembrete cruel de como a violência tem transformado vidas de forma irreparável. Para Maria, a sensação de injustiça é agravada pela demora na resolução do caso. Sua luta agora é por respostas e punição para os responsáveis.

Reflexões sobre violência e justiça

Essas duas histórias, de Marco Aurélio e João Rebello, ilustram como a violência continua a ser um problema crítico no Brasil, impactando vidas de todas as idades e classes sociais. Marco, um jovem promissor, perdeu a vida em circunstâncias que geram questionamentos sobre o uso da força policial. João, por outro lado, foi vítima de uma execução que nunca deveria ter acontecido, fruto de um erro grotesco e da escalada de crimes no país.

Ambos os casos refletem uma dura realidade: vidas são interrompidas enquanto as famílias ficam com o peso do luto e da luta por justiça. É um ciclo que precisa ser interrompido com reformas sérias, tanto na segurança pública quanto no sistema judicial, para que tragédias como essas não se repitam.

No fim, o que resta é a memória. A voz de Marco nos versos que ele deixou e a força de Maria em seu apelo público são lembretes dolorosos de que cada vida perdida é uma história que não pode ser esquecida.