Acidente em Alagoas: motorista relatou problemas no ônibus antes da viagem, diz delegado

O trágico acidente de ônibus ocorrido em Alagoas no último domingo (24) continua sendo investigado pelas autoridades locais. Sob a responsabilidade do delegado Guilherme Martin Iusten, as apurações revelaram novos detalhes que lançam luz sobre os momentos que antecederam a tragédia. Ao menos 18 pessoas perderam a vida, e outras 27 ficaram feridas quando o veículo despencou na região da Serra da Barriga, em União dos Palmares.

Em uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira (25), o delegado compartilhou informações obtidas com a esposa do motorista. Segundo ela, antes de sair para trabalhar, o condutor demonstrou preocupação com problemas mecânicos no ônibus, afirmando que o veículo apresentava dificuldades que poderiam impedir sua subida na serra. “Ele comentou que o ônibus não estava em boas condições, mas insistiu em cumprir sua jornada, dizendo que precisava garantir o sustento da família”, revelou a mulher ao portal Gazeta Web.

Embora tenha alertado o marido sobre os riscos, ela não conseguiu convencê-lo a desistir da viagem. A responsabilidade de sustentar a casa, como apontado, foi o motivo pelo qual ele decidiu seguir adiante. A fala da esposa foi confirmada pelo delegado, que também ressaltou que a declaração foi entregue oficialmente durante as investigações.

Apesar dos relatos, a inspeção técnica realizada no veículo pouco antes do acidente, em 13 de outubro, não apontava nenhuma irregularidade aparente, conforme destacou o delegado Iusten. Ainda assim, ele reforçou que uma análise pericial detalhada está em andamento. “A perícia oficial esteve no local e está reunindo elementos para determinar se houve falha mecânica ou qualquer outro fator técnico que possa ter contribuído para o acidente”, explicou.

O acidente, que ocorreu em uma das regiões mais emblemáticas de Alagoas, trouxe repercussões imediatas. Inicialmente, o governo do estado havia informado que 23 pessoas teriam morrido na tragédia, mas posteriormente corrigiu o número para 17. Entre as vítimas fatais, uma chegou a ser encaminhada a um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos durante o atendimento.

A Polícia Civil de Alagoas declarou luto diante da gravidade do episódio e já instaurou um inquérito para apurar as causas exatas da tragédia. “As ordens para priorizar o caso vieram diretamente do delegado-geral, Gustavo Xavier, e do secretário de Segurança Pública, Flávio Saraiva. Estamos trabalhando com a máxima celeridade para trazer respostas”, afirmou o órgão em nota.

Especialistas na área de transporte público destacam que acidentes envolvendo ônibus em regiões montanhosas não são incomuns no Brasil. A combinação de vias precárias, manutenção inadequada e a pressão enfrentada por trabalhadores no setor de transporte frequentemente resulta em tragédias como esta.

A Serra da Barriga, que já foi palco de lutas históricas durante o período colonial, carrega agora uma nova marca de sofrimento. Para os moradores locais, a comoção é intensa, e muitos compareceram ao local do acidente para prestar solidariedade às vítimas e seus familiares.

Este incidente também reacende o debate sobre as condições de trabalho enfrentadas por motoristas de ônibus, especialmente em rotas desafiadoras. Muitos profissionais relatam a necessidade de dirigir veículos sem manutenção adequada, colocando em risco não apenas suas vidas, mas também as de dezenas de passageiros. Em entrevistas concedidas à imprensa, motoristas da região destacaram que problemas mecânicos são frequentemente subestimados pelas empresas.

Enquanto isso, familiares e amigos das vítimas buscam conforto em meio à dor. A solidariedade tem vindo de diversas partes do estado, com doações e campanhas de apoio sendo organizadas para ajudar os sobreviventes e os parentes daqueles que perderam a vida. Autoridades municipais também se mobilizaram para oferecer assistência psicológica e logística às famílias afetadas.

O caso em União dos Palmares não deve ser apenas um número nas estatísticas de acidentes rodoviários. É um lembrete da necessidade de melhorias urgentes no sistema de transporte público brasileiro e da criação de políticas que priorizem a segurança de passageiros e trabalhadores. Com as investigações em curso, espera-se que os responsáveis, sejam eles individuais ou institucionais, sejam devidamente responsabilizados.