Na madrugada deste domingo, 1º de dezembro, o Brasil perdeu um de seus maiores cientistas: Rogério Cerqueira Leite, referência nacional e internacional na área de física e engenharia. Ele faleceu aos 93 anos, em Campinas, interior de São Paulo, onde estava internado no Hospital Centro Médico desde 18 de novembro, após sofrer uma parada cardíaca. A confirmação da morte foi feita pelo Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), instituição que ele dirigiu e ajudou a transformar em um dos maiores centros de pesquisa do país.
Um legado inigualável
Cerqueira Leite deixa um vasto legado acadêmico e científico. Professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele publicou mais de 80 pesquisas em revistas científicas de renome, consolidando seu nome como um dos principais expoentes da ciência brasileira. Sua atuação foi crucial para o desenvolvimento de projetos de impacto global, como o Sirius, um dos mais modernos aceleradores de partículas do mundo, localizado em Campinas.
O projeto Sirius, que colocou o Brasil na elite mundial de pesquisa em física, é frequentemente citado como um marco histórico para a ciência nacional. Equipado com tecnologia de ponta, o acelerador permite estudar materiais em escala atômica, abrindo caminho para avanços em áreas como saúde, energia e meio ambiente.
Formação e carreira internacional
Formado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Cerqueira Leite começou sua trajetória nos anos 1960 nos prestigiados Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, onde teve contato com algumas das mentes mais brilhantes da época. Após essa experiência, retornou ao Brasil e assumiu posições de destaque, como pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e vice-presidente executivo da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Além disso, lecionou em instituições de prestígio, como o ITA, a Unicamp e a Universidade de Paris, onde concluiu seu doutorado em Física de Sólidos. Sua contribuição como educador é lembrada por gerações de estudantes, muitos dos quais hoje ocupam posições de destaque na ciência e na indústria.
Reconhecimento e influência
Cerqueira Leite foi amplamente reconhecido por sua atuação. Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico na Classe de Grã-Cruz, uma das maiores honrarias do país, além de comendas internacionais da França e do Canadá. Mas sua influência não se limitava à ciência; ele também era uma figura respeitada no meio político, articulando diálogos entre a comunidade científica e líderes como Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Em nota, o presidente Lula lamentou a perda:
“Rogério Cerqueira Leite foi um dos nossos maiores cientistas e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da pesquisa e avanços da ciência no Brasil. […] Teve forte atuação na formatação de políticas para ciência e na defesa da democracia e da justiça social.”
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, também destacou sua importância:
“Sem o professor Cerqueira Leite, a ciência brasileira ficará carente de uma figura fundamental, que além da contribuição intelectual, tinha profundo compromisso com a soberania nacional e com a democracia.”
Uma vida dedicada à ciência e ao país
A vida de Cerqueira Leite foi um exemplo de dedicação à ciência e ao fortalecimento do Brasil como um polo de pesquisa e inovação. Mesmo em momentos de adversidade, ele defendia com firmeza a importância do investimento em ciência e tecnologia como pilares do desenvolvimento nacional.
Seu trabalho à frente de instituições como o CNPEM e sua participação em projetos transformadores, como o Sirius, são apenas alguns dos legados concretos que ele deixa. Mas, para além disso, fica o impacto imensurável de sua atuação como professor, mentor e defensor incansável de uma ciência voltada para o bem comum.
O Brasil se despede de um gigante, mas o legado de Rogério Cerqueira Leite segue vivo, inspirando novas gerações de cientistas e mostrando que o conhecimento é uma ferramenta poderosa para transformar realidades.