Grupo armado foi à rua onde morava entregador jogado da ponte por PM

Homens armados em um carro descaracterizado foram flagrados circulando pela rua onde vivia Marcelo Barbosa Amaral, de 25 anos, entregador jogado de uma ponte por um policial militar na última segunda-feira (2), na zona sul de São Paulo. A presença do grupo na madrugada desta quarta-feira (4) intensificou o medo entre os moradores do bairro Americanópolis, já abalados pela brutalidade do crime, amplamente divulgado em vídeo.

De acordo com imagens obtidas pelo portal Metrópoles, o grupo foi visto em diversas ocasiões durante a madrugada na Rua Comendador Artur Capodaglio, entre 0h39 e 1h23. No primeiro vídeo, três homens aparecem caminhando pela rua, armados e vestindo coletes. Cinco minutos depois, outro registro captura sons de batidas em um portão, seguidos por um grito, aparentemente direcionado a um dos moradores.

Por volta de 1h18, o grupo, ainda no carro descaracterizado, parou em uma rua próxima. Os homens desceram do veículo, abordaram uma pessoa atrás de um caminhão e, em seguida, interpelaram uma segunda pessoa que descia pela rua. Durante as abordagens, testemunhas relataram que os homens se identificaram como agentes da Corregedoria da Polícia Militar, exibindo uma foto de Marcelo e questionando os moradores sobre o paradeiro do jovem.

Clima de medo e tensão no bairro

A ação, embora apresentada como parte de uma investigação, gerou estranhamento e medo entre os moradores. O horário e a abordagem ostensiva contrastam com a natureza sigilosa que geralmente caracteriza operações da Corregedoria. Segundo relatos, o mesmo carro retornou ao bairro durante o dia, e novas abordagens foram realizadas.

Americanópolis, conhecido por suas ruas estreitas e pela proximidade entre as casas, é um dos bairros mais antigos da zona sul da capital paulista. Apesar da localização privilegiada, próximo a bairros como Morumbi e Campo Belo, a região enfrenta desafios socioeconômicos e uma rotina marcada pela insegurança. A casa onde Marcelo vivia está a aproximadamente um quilômetro de distância da Rua Padre Antônio de Gouveia, local onde o crime ocorreu, na vizinha Cidade Ademar.

Amigos e familiares de Marcelo informaram que ele não mora mais no endereço há alguns anos. Após uma série de mudanças em busca de aluguéis mais acessíveis, ele teria se estabelecido em outra residência no mesmo bairro. Contudo, diante da repercussão do caso e da exposição nas redes sociais, Marcelo teria deixado São Paulo na terça-feira (3), buscando refúgio no interior do estado.

O posicionamento da Secretaria de Segurança Pública

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou que a Corregedoria da Polícia Militar está conduzindo diligências para localizar Marcelo e coletar seu depoimento, considerado peça-chave na investigação do crime. Em nota, a SSP afirmou que os agentes da Corregedoria, embora não utilizem uniformes durante as operações, seguem os protocolos necessários para identificação no campo.

Ainda segundo o comunicado, as imagens obtidas pela reportagem serão analisadas para confirmar se os homens vistos no bairro são, de fato, integrantes da Corregedoria. A Polícia Civil também irá investigar os vídeos, buscando esclarecer a natureza das abordagens realizadas pelos homens armados.

O caso que chocou São Paulo

O crime contra Marcelo Barbosa Amaral trouxe à tona questões graves sobre violência policial e abuso de poder. O jovem foi jogado de uma ponte na zona sul de São Paulo por um policial militar, em um ato que foi registrado em vídeo e gerou indignação nacional. A gravação, compartilhada amplamente nas redes sociais, provocou uma onda de protestos e pedidos por justiça.

Agora, o clima de tensão que se instaurou no bairro evidencia o impacto profundo de casos como esse nas comunidades. Para muitos moradores, a presença de homens armados, mesmo supostamente ligados às investigações, representa mais um capítulo de um ambiente de medo e insegurança.

Enquanto isso, as autoridades seguem pressionadas pela opinião pública para esclarecer o crime e garantir que os responsáveis sejam punidos. A repercussão do caso também reacendeu debates sobre a necessidade de reformar as práticas policiais no Brasil e de reforçar mecanismos de combate à violência institucional.

A busca por Marcelo e a análise das imagens registradas no bairro são etapas cruciais para dar prosseguimento às investigações. Até lá, a comunidade de Americanópolis vive entre a expectativa de justiça e o receio de que episódios como este se repitam.