A morte de uma mulher de 57 anos em Santa Maria do Salto, uma cidadezinha no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, causou grande comoção nesta sexta-feira (13). O caso chamou atenção não apenas pela perda em si, mas pela decisão inusitada da família de não permitir o sepultamento, alimentando esperanças de que ela pudesse ressuscitar por conta de suas crenças religiosas.
De acordo com informações apuradas pelo g1, a mulher faleceu durante a madrugada de quinta-feira (12), em sua própria casa. Até o momento, não houve confirmação oficial sobre a causa da morte, mas existe a suspeita de que ela sofria de um câncer que não teria recebido tratamento adequado.
A notícia da morte rapidamente se espalhou pelos cantos de Santa Maria do Salto, município com pouco menos de 5 mil habitantes. Como é comum em cidades pequenas, os acontecimentos ganham proporções maiores, e em pouco tempo a residência da família virou ponto de curiosidade e murmúrios. Dezenas de moradores se reuniram na porta da casa, tentando entender o que realmente estava acontecendo.
A profecia e a fé da família
A decisão da família de não liberar o corpo para o sepultamento foi motivada, segundo relatos, por uma profecia religiosa. Nas redes sociais, diversas postagens começaram a circular, apontando que os familiares acreditam que a mulher ressuscitará no terceiro dia após sua morte. Trata-se de uma fé incomum, mas profundamente enraizada na religiosidade do grupo, o que acabou dividindo opiniões entre os moradores.
Enquanto alguns respeitam as crenças e consideram a situação um reflexo da fé dos familiares, outros demonstram preocupação. “A gente entende que cada um tem sua religião, mas o corpo precisa ser cuidado, é uma questão de saúde pública também”, comentou um morador que preferiu não se identificar.
A intervenção policial
Diante da polêmica, as autoridades precisaram ser acionadas. A Polícia Civil compareceu à residência da família, localizada no bairro Baixada, e realizou os procedimentos necessários para verificar a situação. Após uma análise inicial, os agentes confirmaram que o corpo não apresentava sinais de violência ou qualquer indício de crime, descartando assim qualquer suspeita de ação criminosa.
A Polícia Militar também esteve no local, mas enfrentou resistência por parte dos familiares. A recusa em permitir a entrada das autoridades deixou claro que a família estava determinada a seguir suas convicções, independentemente da pressão externa.
A cidade dividida
Enquanto o corpo permanecia dentro da casa até a manhã desta sexta-feira (13), o clima na cidade seguia carregado. O assunto dominava conversas em praças, padarias e grupos de WhatsApp. A pequena Santa Maria do Salto, acostumada a uma rotina pacata, foi surpreendida por um episódio que trouxe à tona debates sobre fé, tradição e questões legais.
Especialistas em saúde pública alertam para os riscos de manter um corpo em decomposição em ambiente domiciliar, principalmente em regiões de clima quente, como é o caso do Vale do Jequitinhonha. Além do impacto emocional para a família, há também preocupações com possíveis consequências sanitárias.
Entre a fé e a razão
O caso traz à tona um dilema complexo que mistura fé e realidade prática. Em um Brasil de dimensões continentais, onde a religiosidade assume formas tão variadas, histórias como essa nos lembram o quão profundas são as crenças de algumas comunidades. Para a família, a ressurreição representa uma promessa divina; para o restante da cidade, uma situação que exige respostas rápidas.
Até o momento, não há informações sobre quando ou se a família permitirá que o sepultamento seja realizado. Enquanto isso, Santa Maria do Salto segue aguardando, dividida entre o respeito à fé dos familiares e a necessidade de encerrar o ciclo natural da vida.