O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, localizada na BR-226, entre os estados do Tocantins e Maranhão, revelou uma dolorosa mistura de luto e revolta. A tragédia, ocorrida no último domingo, 22 de dezembro, escancarou a negligência histórica com a infraestrutura no Brasil, resultando em mortes e no desaparecimento de mais de dez pessoas.
Entre as vítimas, uma história comoveu o país: Andreia Maria de Souza, motorista de caminhão que transportava ácido sulfúrico, está entre os desaparecidos. Seu marido, José de Oliveira, compartilhou seu sofrimento. “Ela era minha companheira de estrada, uma pessoa maravilhosa… dói muito. Para mim, ela ainda está viva, não está debaixo d’água”, declarou, entre lágrimas.
José relatou que o casal havia se encontrado poucas horas antes do desabamento. Andreia o surpreendeu ao levar uma refeição enquanto ele aguardava o conserto de sua carreta. O que seria um simples gesto de cuidado acabou se transformando em sua última despedida.
A queda da ponte foi registrada em vídeo por um vereador que, na tentativa de cobrar ações preventivas das autoridades, acabou capturando o momento exato em que a estrutura cedeu. As imagens são um retrato assustador do descaso: uma obra que há anos apresentava sinais visíveis de deterioração finalmente sucumbiu.
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Um histórico de negligência
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), foram destinados R$ 3,5 milhões para a manutenção da ponte entre 2021 e 2023. Contudo, um projeto mais amplo, avaliado em R$ 13 milhões, teve sua licitação fracassada em maio de 2024. Essa sequência de decisões adiadas e recursos insuficientes é, infelizmente, familiar em obras públicas no Brasil.
Especialistas alertam que sinais como rachaduras e desgaste estrutural, relatados por moradores locais, já indicavam o risco iminente de colapso. Porém, as providências necessárias foram adiadas por questões burocráticas e falta de priorização.
Impacto ambiental e humano
Além da dor das famílias, outro problema grave se desenrola: o vazamento de ácido sulfúrico no rio, resultado da carga transportada por Andreia. Equipes técnicas foram mobilizadas para analisar os impactos na fauna e na qualidade da água, mas os danos ambientais já preocupam comunidades que dependem do rio para subsistência.
Tragédias como essa expõem não apenas o custo humano da negligência, mas também as consequências ambientais e econômicas de um sistema que falha em prevenir o previsível. O desabamento isolou comunidades e interrompeu o tráfego em uma rota estratégica para o transporte de mercadorias.
O peso da dor e a urgência de mudanças
Em meio ao luto, as famílias das vítimas buscam respostas. O caso de Andreia simboliza a dor de muitos que perderam seus entes queridos em circunstâncias evitáveis. Para José, o vazio deixado pela ausência de sua esposa é uma ferida que o tempo talvez nunca cure.
A sociedade brasileira, mais uma vez, assiste a um episódio que poderia ter sido evitado. A ponte Juscelino Kubitschek não é apenas uma via de ligação entre dois estados, mas também um símbolo da precariedade de muitas obras que, por descaso, colocam vidas em risco diariamente.
O debate sobre infraestrutura no Brasil ganha novos contornos diante de tragédias como essa. Enquanto o governo anuncia novas medidas para prevenir situações similares, a população questiona: até quando o descaso será a norma?
Um futuro incerto
Esse episódio reforça a necessidade urgente de investimentos estruturais e ações preventivas. A vida de Andreia, assim como a de tantas outras vítimas, não pode ser reduzida a estatísticas. É preciso que cada rachadura ignorada, cada atraso em uma licitação, e cada morte evitável se tornem lições para um futuro diferente.
As famílias, por sua vez, não podem carregar sozinhas o fardo do luto. O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek deve servir como um ponto de virada, não apenas para quem perdeu alguém, mas para toda a sociedade que exige mudanças reais e duradouras.