O colapso de parte da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, no último domingo (22), continua mobilizando esforços em busca de respostas e, principalmente, dos desaparecidos. Localizada na divisa entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), a tragédia deixou 14 pessoas desaparecidas, incluindo duas crianças. O episódio, além de provocar comoção nacional, reacendeu discussões sobre a infraestrutura precária de muitas obras no Brasil.
Nesta segunda-feira (23), o ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou que mergulhadores da Marinha participarão das buscas. “Acabo de ser informado pelo comandante da Marinha, Almirante Olsen, que nossa solicitação de equipe de mergulho foi atendida. Os profissionais estarão prontos para atuar amanhã cedo”, publicou em sua conta na rede social X, antigo Twitter.
Preocupações químicas e alerta à população
O trabalho de resgate tem enfrentado obstáculos significativos. Entre os veículos que despencaram com a estrutura estava um caminhão-tanque transportando ácido sulfúrico, uma substância altamente tóxica e corrosiva. Esse fator obrigou a interrupção temporária das buscas por segurança e gerou alertas das prefeituras de Aguiarnópolis e Estreito sobre possíveis contaminações no Rio Tocantins. As autoridades pediram à população que evite contato com a água até que a situação seja avaliada com precisão.
A morte de uma mulher de 25 anos e uma criança de 11 já foi confirmada, mas as autoridades ainda não detalharam o número total de desaparecidos por faixa etária.
Mobilização governamental e promessas de reconstrução
Renan Filho esteve no local do acidente e decretou estado de emergência, medida que permitirá maior agilidade na realização de obras de reconstrução, uma vez que dispensa o processo licitatório convencional. Segundo o ministro, duas grandes empresas já se ofereceram para executar o projeto, que terá custo estimado entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões, com entrega prevista para 2025.
A responsabilidade pela obra será do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), órgão que também abrirá uma sindicância para investigar as causas do desabamento. A Ponte Juscelino Kubitschek, com 533 metros de extensão, foi construída há mais de 60 anos e atravessa o Rio Tocantins na BR-226, uma das rodovias que conectam o Norte ao Nordeste.
Reclamações e alertas ignorados
A estrutura já havia sido alvo de denúncias de desgaste e rachaduras. Coincidentemente, no momento do colapso, o vereador Elias Cabral Junior, de Aguiarnópolis, estava no local gravando um vídeo para expor os problemas da ponte. As imagens mostram o momento exato em que a estrutura desmorona.
Embora o DNIT tenha mantido um contrato de manutenção em vigor até 2026, os reparos previstos não foram iniciados. Em maio deste ano, o órgão lançou um edital de R$ 13 milhões para obras de reabilitação, mas nenhuma empresa apresentou propostas. “A licitação fracassou”, informou o DNIT em nota oficial.
Tragédias que poderiam ser evitadas
Casos como este escancaram um problema recorrente no Brasil: o descaso com a manutenção de estruturas públicas. Além da Ponte Juscelino Kubitschek, outras obras pelo país têm sido constantemente denunciadas por falta de conservação, colocando em risco a vida de milhares de pessoas que dependem dessas passagens diariamente.
A tragédia levanta questões urgentes sobre os critérios de priorização em obras de infraestrutura, bem como sobre os processos burocráticos que atrasam intervenções necessárias. A ponte que desabou não era apenas uma via de passagem; ela representava um elo crucial para o transporte de mercadorias e para a conexão entre comunidades.
Com a atuação da Marinha, o trabalho de resgate deverá avançar nos próximos dias. No entanto, enquanto as buscas continuam, resta à população local conviver com o impacto emocional e econômico da perda de vidas e de uma infraestrutura que já não atende mais às suas necessidades.
Um país que precisa rever prioridades
O episódio em Aguiarnópolis não é isolado, mas sim parte de um histórico de negligência que tem custado caro ao Brasil. Em meio à promessa de reconstrução e à apuração de responsabilidades, fica evidente que há uma necessidade urgente de rever como e quando os recursos públicos são aplicados. Talvez seja esse o maior aprendizado que essa tragédia pode oferecer.