O caso das três pessoas da mesma família que morreram depois de comerem um bolo de Natal em Torres, no Rio Grande do Sul, continua sendo investigado, e as teorias sobre o que pode ter acontecido são várias. As autoridades estão trabalhando com a hipótese de que as mortes tenham sido causadas por envenenamento ou intoxicação alimentar.
O que já se sabe é que o arsênio foi encontrado no sangue de uma das vítimas fatais e também de duas pessoas que ficaram hospitalizadas. O problema é que, até agora, não foi possível descobrir como esse veneno acabou dentro do bolo. Restos do bolo foram recolhidos para análise, mas ainda é um mistério como o arsênio entrou na receita.
De acordo com Ubiracir Lima, um químico do Conselho Federal de Química, ingredientes vencidos não seriam capazes de se transformar em arsênio. “Não tem como um alimento virar arsênio, não existe essa transformação química”, explicou ele.
O arsênio é um veneno bem perigoso, e sua venda é bem controlada no Brasil. Ele é usado em pesticidas, como o MSMA, que é aplicado em culturas agrícolas. Mas o problema é que, quando o arsênio é usado dessa forma, ele geralmente aparece em quantidades pequenas nos alimentos, o que é considerado seguro.

Agora, a questão é: será que o arsênio estava em algum ingrediente do bolo? O químico Ubiracir Lima diz que isso é bem improvável. “Os alimentos têm um limite para o arsênio, que deve ser residual. Se esses limites forem ultrapassados, pode ser por um erro nas práticas agrícolas ou por algum acidente no momento de aplicar o pesticida”, comentou ele. E mais, ele ainda acredita que, se o arsênio tivesse vindo de algum ingrediente do bolo, outras famílias que compraram o mesmo lote de alimentos poderiam ter ficado doentes também.
O que ele acha mais provável é que o arsênio tenha sido colocado no bolo durante o preparo, de maneira acidental ou até mesmo intencional. O veneno era usado por muito tempo como raticida nas casas brasileiras, mas, embora esteja proibido, ainda pode ser encontrado de forma clandestina. Ubiracir acredita que alguém da família possa ter adquirido o veneno de forma ilegal e, sem saber, misturado ao bolo.
“Talvez tenha rolado uma confusão, com alguém pegando um pote sem saber o que tinha dentro. Pode ser também que o veneno tenha sido armazenado num recipiente que, depois, foi usado para guardar um dos ingredientes do bolo”, sugeriu ele. O fato é que o arsênio não deveria estar presente em uma casa como aquela, mas como o veneno ainda circula de maneira ilegal, a possibilidade de alguém tê-lo adquirido não está descartada.
Essa situação toda levanta várias questões sobre a segurança dos alimentos que consumimos. Até o momento, não é possível afirmar com certeza o que causou as mortes, mas a investigação segue, e a cada nova informação que surge, fica mais claro que o arsênio tem sido a chave para entender essa tragédia. Agora, a dúvida é saber como ele foi parar naquele bolo. E, claro, isso abre um alerta sobre como a venda ilegal de substâncias perigosas ainda representa um risco, especialmente em contextos domésticos. Se não houver um controle mais rigoroso, pode ser que tragédias como essa aconteçam mais vezes.