Jovem baleada na cabeça por agentes da PRF apresenta piora e volta a respirar por aparelhos

Juliana Leite Rangel, de 26 anos, baleada na cabeça durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF), teve uma piora em seu estado de saúde e precisou voltar a utilizar ventilação mecânica. A informação foi divulgada por meio de um boletim médico do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Após apresentar melhora nos últimos dias, a jovem voltou a ter febre e sinais de infecção foram detectados em exames clínicos e laboratoriais. Por conta disso, a equipe médica ajustou o tratamento com antibióticos, retomou o uso de sedação leve e prescreveu medicamentos para controlar a pressão arterial. Juliana agora respira com a ajuda de uma traqueostomia, enquanto permanece internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI), sob os cuidados de uma equipe multidisciplinar.

Apesar do agravamento do quadro infeccioso, o boletim destaca que não houve necessidade de novas intervenções neurológicas até o momento. Contudo, o processo de reabilitação, iniciado recentemente, teve de ser interrompido.

Relembre o caso

Juliana foi atingida na cabeça por um tiro de fuzil disparado por agentes da PRF na noite de Natal, enquanto estava no carro da família na Rodovia Washington Luís (BR-040), em Duque de Caxias. O pai da jovem, que dirigia o veículo, afirmou que não havia nenhum motivo para a abordagem violenta. Além dela, ele também foi ferido, com um disparo que atingiu sua mão esquerda. Após receber atendimento médico, ele foi liberado no mesmo dia.

O caso chamou a atenção pela gravidade do episódio. O carro da família, que transportava cinco pessoas, ficou com diversas marcas de tiros, evidenciando o uso excessivo da força durante a ação policial.

Investigações em andamento

A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) estão investigando o ocorrido. A PRF, por sua vez, afastou preventivamente os três agentes envolvidos na abordagem — dois homens e uma mulher — enquanto apura a conduta dos policiais. Em nota, o diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira, reforçou que a instituição está comprometida em investigar todos os casos de excessos durante operações.

O episódio aconteceu poucas horas após o governo federal publicar um decreto regulamentando o uso da força por agentes de segurança pública. O texto destaca que o emprego de armas de fogo deve ser uma medida extrema, usada apenas em último caso.

Debate sobre a segurança pública

O caso de Juliana reacendeu o debate sobre o uso desproporcional da força por parte das forças policiais no Brasil. Organizações de direitos humanos e especialistas em segurança pública têm cobrado maior treinamento e fiscalização das corporações, especialmente em abordagens que envolvam civis.

A PRF, que nos últimos anos esteve envolvida em outras ações violentas, já vinha sendo criticada por episódios como o da morte de Genivaldo de Jesus Santos, em 2022, quando agentes usaram uma espécie de “câmara de gás improvisada” durante uma abordagem em Sergipe. O novo incidente reforça a necessidade de revisões profundas nos protocolos operacionais da corporação.

A luta pela recuperação

Enquanto as investigações continuam, a família de Juliana enfrenta dias de angústia. Amigos e parentes têm se mobilizado em correntes de oração e manifestações nas redes sociais para apoiar a jovem e pedir justiça. “Ela é uma menina cheia de vida, cheia de sonhos. Estamos rezando muito para que ela supere esse momento tão difícil”, disse uma prima da jovem.

Apesar das adversidades, o foco agora está em sua recuperação. A equipe médica segue monitorando de perto o quadro infeccioso, considerado o maior desafio no momento. Cada avanço, mesmo que pequeno, é visto como uma vitória.

Esse caso, marcado por uma violência inexplicável, não apenas deixou marcas profundas em Juliana e sua família, mas também abriu novas discussões sobre os limites do uso da força policial no país. Enquanto isso, a jovem continua lutando pela vida em um hospital da Baixada Fluminense.