A investigação sobre o caso que abalou a cidade de Torres, no Rio Grande do Sul, ganhou novos contornos com a confirmação de mais uma vítima fatal. Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise Moura dos Anjos — principal suspeita do envenenamento em massa —, teve sua morte associada à ingestão de arsênio presente em leite em pó contaminado. O laudo oficial, divulgado pela Polícia Civil, trouxe à tona uma concentração de 264 miligramas de arsênio no organismo da vítima, um dos índices mais altos já identificados entre os quatro óbitos confirmados.
A tragédia, inicialmente restrita ao fatídico encontro familiar no Natal de 2024, agora se estende para um período anterior, ampliando as suspeitas de que o ciclo de crimes tenha começado meses antes. Deise, presa preventivamente desde o dia 5 de janeiro, responde por acusações de triplo homicídio duplamente qualificado, além de três tentativas de homicídio.
O veneno silencioso e a mente criminosa
A diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Marguet Mittmann, explicou que o arsênio, uma substância metálica, possui características que facilitam sua utilização em ações criminosas. “É incolor, inodoro e insípido, o que torna quase impossível sua detecção em alimentos sem análise laboratorial”, afirmou Mittmann.
O motivo que teria levado Deise a cometer os assassinatos é, segundo os investigadores, surpreendentemente banal: uma dívida de R$ 600,00, já quitada, mas que teria deixado cicatrizes emocionais profundas. Esse ressentimento, somado a um possível perfil psicológico desequilibrado, transformou pequenos conflitos familiares em tragédia.
Operação Acqua Toffana: o peso da história e a modernidade do crime
A investigação, batizada de “Operação Acqua Toffana” — uma referência ao veneno popular entre nobres do século XVII —, tem desdobramentos cada vez mais complexos. De acordo com o delegado Heraldo Chaves Guerreiro, a quantidade de provas acumuladas torna praticamente impossível que a acusada recupere a liberdade. “As evidências são robustas e apontam para um planejamento meticuloso e motivado por rancores arraigados”, destacou o delegado.
Marcos Veloso, delegado-chefe responsável pelo caso, declarou que outras mortes ocorridas no círculo social de Deise serão alvo de investigação aprofundada. “A abordagem agora é ampla e minuciosa. Qualquer óbito com sinais de intoxicação deve ser revisado”, afirmou.
Reação do Estado e mudanças nos protocolos de segurança
Diante da repercussão do caso, o secretário de Segurança Pública, Sandro Caron, anunciou uma série de revisões nos procedimentos para investigar mortes suspeitas por intoxicação. A Polícia Civil, por sua vez, está pressionando o Governo Federal por regulamentações mais rígidas sobre a comercialização de substâncias perigosas como o arsênio. A intenção é evitar que produtos letais sejam adquiridos com facilidade, fechando brechas que possibilitam crimes semelhantes.
Esse esforço conjunto reflete o impacto gerado pelo caso em uma sociedade que, cada vez mais, se preocupa com questões de segurança alimentar e acesso a substâncias tóxicas. “Precisamos agir preventivamente. Não se trata apenas de resolver o crime, mas de impedir que outros venenos entrem em circulação sem controle”, frisou Caron.
Um mistério com capítulos ainda não revelados
O novo desdobramento, envolvendo o envenenamento de Paulo Luiz, sugere que as ações criminosas de Deise começaram muito antes do incidente do bolo natalino. Agora, os investigadores trabalham para identificar outras possíveis vítimas e mapear o histórico completo dos envenenamentos. A expectativa é que a apuração traga à tona mais informações sobre os métodos usados e os motivos ocultos por trás de cada ataque.
O caso, que combina veneno, vingança e segredos de família, continua a capturar a atenção do público e a exigir respostas das autoridades. Enquanto os bastidores da operação revelam a frieza do crime, a sociedade aguarda por justiça para aqueles que perderam suas vidas de maneira tão cruel e silenciosa.