Bolo com arsênio: mulher pode ter envenenado pai, marido e filho

A investigação sobre Deise Moura dos Anjos, mulher acusada de envenenar um bolo que resultou na morte de três pessoas de uma mesma família na véspera de Natal, continua a ganhar desdobramentos. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul agora considera a possibilidade de exumar o corpo do pai de Deise, José Lori da Silveira Moura, que faleceu em 2020, aos 67 anos, em Canoas. Embora a causa da morte tenha sido registrada como cirrose, a polícia busca esclarecer se há ligação entre o falecimento e as suspeitas de envenenamento que cercam Deise.

Além disso, os investigadores trabalham para entender se outras mortes no círculo familiar de Deise também podem estar relacionadas. Segundo o delegado Marcos Veloso, há provas consistentes que apontam para uma possível tentativa de homicídios em série. Durante uma coletiva de imprensa realizada na última sexta-feira (10), Veloso revelou que Deise teria adquirido arsênio muito antes das primeiras mortes suspeitas, demonstrando um comportamento premeditado.

A Relação com o Pai e as Primeiras Suspeitas

A relação de Deise com o pai, descrita como cordial, porém distante, foi trazida à tona por uma amiga da família. Apesar disso, a polícia considera o caso digno de investigação, já que outras mortes envolvendo pessoas próximas a ela levantaram sinais de alerta. De acordo com a delegada Sabrina Deffente, o comportamento de Deise chamou atenção pela frieza e capacidade de manipulação.

— Ela é extremamente calma, firme em suas afirmações e convincente, o que dificulta a percepção inicial de qualquer envolvimento dela nesses casos — declarou a delegada ao portal g1.

Outras Supostas Vítimas

A polícia também suspeita que Deise tenha tentado envenenar o próprio marido e o filho do casal. Amostras serão analisadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) nos próximos dias para confirmar a presença de substâncias tóxicas.

Rafael Lanaro, presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, explicou os efeitos do arsênio em pequenas doses. Segundo ele, a substância inicialmente provoca sintomas como vômitos constantes, náuseas intensas e diarreia, o que pode levar a complicações graves de saúde, mas não necessariamente à morte imediata.

— O arsênio é conhecido por causar uma “toxíndrome de hiperemese”, caracterizada por vômitos incessantes. Esses sintomas costumam ser os primeiros sinais de intoxicação — detalhou Lanaro.

A Garrafa de Água do Hospital

Outro elemento investigado é uma garrafa de água levada por Deise para sua sogra, que estava internada em um hospital em Torres, horas antes de a suspeita ser presa. De acordo com relatos, o lacre da garrafa estava rompido, o que gerou desconfiança. A acompanhante de Zeli, a sogra, descartou o líquido por precaução. O IGP tenta determinar se havia arsênio na garrafa, embora a lavagem do recipiente possa dificultar a análise.

O Perfil de Deise e as Provas Encontradas

Deise está presa no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por acusações de triplo homicídio duplamente qualificado e três tentativas de homicídio. As investigações mostraram que ela realizou buscas frequentes na internet sobre venenos, incluindo termos como “veneno para humanos” e “veneno para o coração”. As pesquisas foram feitas em novembro, quando ela estava na casa da sogra.

Além disso, a perícia revelou que Deise realizou cerca de 100 buscas relacionadas ao arsênio em lojas virtuais e plataformas de busca, o que reforça a suspeita de premeditação.

O Posicionamento da Defesa

Em nota enviada ao portal g1, os advogados de Deise afirmaram que ainda não tiveram acesso integral ao inquérito policial e que a família tem colaborado com as investigações desde o início. “As prisões temporárias têm caráter investigativo e visam à coleta de provas. Ainda existem diversas questões a serem esclarecidas neste caso”, pontuou a defesa.

Conclusão

Com provas robustas em análise e novas linhas de investigação sendo abertas, o caso de Deise Moura dos Anjos continua a repercutir e gerar debates. A polícia trabalha para conectar os pontos e entender a extensão de um possível histórico de envenenamentos em série. Para os familiares das vítimas e a sociedade, as respostas completas ainda estão por vir.



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