Um caso chocante marcou a cidade de Torres, no Rio Grande do Sul, durante as celebrações natalinas de 2023. O que deveria ser uma noite de alegria e união transformou-se em um pesadelo com desdobramentos perturbadores. Três mulheres da mesma família perderam a vida após consumirem um bolo contaminado com arsênio em um jantar no dia 23 de dezembro.
Uma tragédia familiar
Jefferson Luiz Moraes, que perdeu sua esposa, Maida Berenice Flores da Silva, com quem foi casado por mais de 30 anos, descreveu os momentos de angústia que se seguiram ao consumo do doce. “Ela já desconfiou na primeira fatia”, relatou Jefferson, recordando os sintomas imediatos que Maida e outras vítimas apresentaram após o jantar.
As outras duas mulheres que faleceram foram identificadas como Neuza Denise Silva dos Anjos, irmã de Maida, e Tatiana Denise dos Anjos, filha de Neuza. Ambas consumiram o bolo durante a celebração natalina. Já Zeli dos Anjos, mãe de Tatiana e responsável pelo preparo do doce, sobreviveu após ser hospitalizada em estado grave. Ela recebeu alta no dia 10 de janeiro.
Um menino de apenas 10 anos, filho de Tatiana, também foi envenenado, mas conseguiu sobreviver após ser internado. O envolvimento de uma criança nessa tragédia trouxe uma carga emocional ainda maior ao caso, mobilizando a cidade.
O mistério do arsênio
As investigações ganharam novos contornos uma semana após o incidente, quando Deise dos Anjos, nora de Zeli, foi presa. De acordo com a polícia, Deise havia adquirido arsênio pela internet – a mesma substância que causou as mortes das mulheres.
A descoberta foi feita após análises detalhadas e a recuperação de evidências no celular da acusada. Entre elas, buscas na internet com termos como “veneno para o coração”, “arsênio veneno” e “veneno que mata humano”. Além disso, foi encontrada uma nota fiscal confirmando a compra da substância dias antes do jantar de Natal.
Em áudios coletados, Deise demonstrava ressentimentos em relação à sogra, Zeli, chamando-a de “uma peste”. Esses indícios apontam para possíveis motivações que ainda estão sendo apuradas.
Um caso ainda mais complexo
Como se o caso já não fosse trágico o suficiente, os investigadores decidiram revisar a morte de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli e sogro de Deise, que faleceu em setembro de 2023. Uma exumação revelou a presença de arsênio no corpo de Paulo, levantando suspeitas de que ele também possa ter sido vítima de envenenamento.
Essa descoberta adiciona uma nova camada de complexidade ao caso, sugerindo que as ações de Deise possam ter sido premeditadas e, possivelmente, repetidas em diferentes momentos.
Defesa da acusada
A defesa de Deise, por meio de seu advogado, argumenta que ainda não há provas definitivas e enfatiza o princípio da presunção de inocência. Segundo o defensor, as evidências encontradas devem ser analisadas com cautela, levando em conta o contexto completo antes de qualquer julgamento.
Um desfecho que abala a comunidade
O caso abalou profundamente a cidade de Torres, conhecida por sua tranquilidade e paisagens deslumbrantes. As mortes trágicas das três mulheres, somadas à complexidade das investigações, trouxeram à tona questões sobre confiança, convivência familiar e até mesmo os perigos do uso indiscriminado da internet para a aquisição de substâncias perigosas.
Enquanto a polícia segue trabalhando para esclarecer todos os detalhes, a comunidade local se une para prestar apoio aos familiares das vítimas. A história, marcada pela dor e pela perda, também traz um alerta sobre a necessidade de estar atento a sinais de conflito e atitudes suspeitas que possam evoluir para tragédias.
Deise, agora sob custódia, continua sendo investigada, e os desdobramentos do caso prometem trazer mais revelações nos próximos meses. Para muitos, o ato de colocar veneno em um alimento compartilhado em uma celebração tão simbólica como o Natal é um dos aspectos mais difíceis de entender.
O que resta para os que ficaram é a memória das vítimas e o desejo de justiça, enquanto o caso segue marcado como um dos mais impactantes da história recente da região.