A tragédia envolvendo a morte da pequena Maria Gabriela da Silva, de apenas 4 anos, comoveu a cidade de Parnaíba, no litoral do Piauí, e o país inteiro. A menina faleceu na última terça-feira (21) após passar mais de 20 dias lutando pela vida em um hospital de Teresina. O caso é resultado de um envenenamento coletivo que tirou a vida de várias pessoas da mesma família, reacendendo discussões sobre violência doméstica e segurança alimentar.
O que aconteceu?
Tudo começou no dia 1º de janeiro, quando nove pessoas da família participaram de uma ceia de réveillon que incluía um baião de dois. Infelizmente, o arroz utilizado no prato estava contaminado com terbufós, uma substância extremamente tóxica presente em pesticidas, semelhante ao chumbinho. O consumo dessa substância ataca o sistema nervoso central, causando sintomas graves como tremores, convulsões e dificuldade respiratória.
Apenas três dos nove integrantes que comeram o prato sobreviveram, enquanto seis perderam a vida, incluindo Maria Gabriela, sua mãe, dois irmãos e um tio. Para piorar, investigações apontaram que o envenenamento não foi um acidente.
Investigação e suspeitas
Francisco de Assis Pereira da Costa, padrasto da mãe de Maria Gabriela, é apontado como principal suspeito do crime. Preso desde o dia 8 de janeiro, ele nega ter envenenado a família, mas admite desavenças com a enteada e confessou sentir “nojo e raiva” dela e dos filhos. A polícia identificou diversas contradições nos depoimentos de Francisco, além de mudanças em suas versões sobre os fatos, o que aumentou ainda mais as suspeitas.
O laudo pericial do Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou que o veneno usado foi o terbufós, cuja venda é proibida no Brasil. Isso trouxe à tona um problema maior: o mercado ilegal de pesticidas no país. Produtos como o chumbinho continuam sendo utilizados indiscriminadamente, mesmo com os riscos conhecidos à saúde pública.
Um histórico de tragédias
Essa não foi a primeira vez que a família sofreu com envenenamentos. No ano passado, dois irmãos de Maria Gabriela, de 7 e 8 anos, também morreram sob circunstâncias similares. Inicialmente, a vizinha Lucélia Maria da Conceição Silva foi acusada pelo crime, mas um novo laudo descartou sua culpa, levando à libertação dela meses depois.
Com a repetição do padrão, as autoridades agora investigam se Francisco também está por trás desses casos. As evidências sugerem que o mesmo veneno foi utilizado tanto nos episódios de 2024 quanto no deste ano.
Justiça e desdobramentos
A Justiça estipulou um prazo para que a polícia esclareça possíveis falhas na investigação anterior, especialmente no caso dos irmãos mortos em 2024. Enquanto isso, nesta quinta-feira (23), ocorrerá uma audiência de instrução que pode definir novos rumos no processo.
Esse caso não é apenas mais uma tragédia isolada. Ele levanta questionamentos sobre os mecanismos de proteção a vítimas de violência doméstica e como o sistema de justiça lida com crimes tão complexos.
Solidariedade e dor
A direção do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) divulgou uma nota lamentando a morte de Maria Gabriela e reafirmou que todos os esforços possíveis foram feitos para salvar a criança. Na mensagem, os profissionais expressaram solidariedade à família, que agora enfrenta o luto e a busca por justiça.
Reflexão
Essa história nos faz refletir sobre a fragilidade da vida e a urgência de enfrentar questões sociais que afetam diretamente tantas famílias. Desde o combate ao comércio ilegal de substâncias tóxicas até a proteção de vítimas em situações de vulnerabilidade, há muito trabalho a ser feito.
O caso de Maria Gabriela é um lembrete doloroso de que a negligência, a violência e a falta de suporte adequado podem destruir vidas. Enquanto a Justiça faz seu trabalho, cabe a todos nós não esquecermos dessa tragédia e cobrarmos mudanças concretas para evitar que histórias como essa se repitam.