Do esporte a fantasia de herói: quem é o homem que esfaqueou mulher em loja da Glória

O crime que tirou a vida da vendedora Carla Gobbi Fabrete, na tarde de segunda-feira (10), em uma loja na Glória, Vila Velha, deixou os moradores do Espírito Santo perplexos. O responsável pelo ataque, Wenderson Rodrigues, de 30 anos, tem uma trajetória marcada por altos e baixos – uma história que já foi de superação, mas acabou terminando de forma trágica.

Ele não era um desconhecido. Muitos o reconheciam por sua presença nos semáforos da Grande Vitória, onde vendia doces vestido de super-herói. Esse detalhe não era apenas uma estratégia de marketing, mas uma metáfora da luta que travava contra os próprios fantasmas. Antes disso, Wenderson teve um passado promissor no esporte e chegou a conquistar títulos no halterofilismo. No entanto, os problemas com drogas e a criminalidade acabaram arrastando sua vida para um rumo completamente diferente.

Um passado promissor no esporte

Em 2021, a TV Vitória/Record contou parte da história de Wenderson. Na época, ele estudava enfermagem e tentava reconstruir a vida com a venda de doces nas ruas. Seu envolvimento com o esporte começou cedo, como uma forma de escapar do alcoolismo dos pais.

“Eu abracei o esporte, comecei fazendo capoeira, fiz jiu-jitsu, taekwondo, sempre fazendo várias artes marciais”, afirmou em uma entrevista. Mais tarde, encontrou no halterofilismo uma paixão que lhe rendeu títulos. “Fui bicampeão na categoria júnior, fui estreante em Colatina e outros até 2016”, contou.

Mas o sucesso nos campeonatos também trouxe consigo um novo ciclo de excessos. O dinheiro e a visibilidade o levaram a festas, onde o consumo de álcool e drogas entrou na sua rotina. A cocaína se tornou uma presença constante em sua vida, e com ela, os problemas começaram a se acumular.

A decadência e o primeiro crime

A dependência química transformou Wenderson em outra pessoa. Em 2019, ele já não era mais o atleta disciplinado que buscava títulos. Naquele ano, protagonizou um episódio surreal que o colocou nas manchetes policiais: tentou roubar uma moto, mas foi surpreendido pelo dono, que reagiu. Para fugir, ele se jogou em um valão e nadou para tentar escapar, mas logo em seguida tentou roubar um carro e acabou sendo espancado pela população.

Depois desse episódio, tentou uma nova reviravolta. Abandonou os furtos e passou a vender doces nas ruas, usando fantasias de super-herói como uma forma de atrair clientes e espalhar uma mensagem positiva. Mas o passado parecia não querer deixá-lo seguir em frente.

O dia da tragédia

Segunda-feira, 10 de março de 2025. A rotina tranquila da loja onde Carla trabalhava foi interrompida de maneira brutal. Pouco antes do crime, Wenderson entrou no estabelecimento, e, por motivos ainda não totalmente esclarecidos, esfaqueou a vendedora e fugiu em seguida.

A Guarda Municipal agiu rapidamente e conseguiu localizá-lo pouco depois. No momento da prisão, Wenderson tentou tirar a própria vida, desferindo cortes contra si mesmo. Ele precisou ser encaminhado ao hospital antes de ser levado para a delegacia.

Agora, preso e indiciado, ele enfrentará a justiça mais uma vez. O jovem que um dia inspirou superação com sua história de vida agora está no centro de um caso que deixou uma marca profunda na cidade.

O que levou Wenderson a esse ponto? Foi a dependência química, um transtorno psicológico, ou algo mais profundo em sua trajetória? Perguntas como essas ficarão para a investigação e, possivelmente, para os tribunais. O que é certo é que, para a família de Carla, nenhuma resposta trará de volta a vida que foi tirada de forma tão brutal.