Mulher que era mantida em cárcere pelo marido por 8 anos no PR é resgatada após denúncia por e-mail

Na última sexta-feira (14), a Polícia Militar do Paraná resgatou uma mulher que havia sido mantida em cárcere privado por oito anos pelo próprio marido. O caso ocorreu em uma área rural de Itaperuçu, município localizado na Região Metropolitana de Curitiba. A vítima conseguiu pedir ajuda enviando um e-mail à Casa da Mulher Brasileira, denunciando os abusos e a violência que sofria.

De acordo com as autoridades, além de estar confinada, a mulher era frequentemente agredida fisicamente pelo companheiro e impedida de manter contato com qualquer pessoa sem a autorização dele. O caso chamou atenção pela gravidade da situação e pela dificuldade de acesso ao local onde ela estava mantida.

O Pedido de Ajuda e a Investigação

A denúncia chegou à Casa da Mulher Brasileira por meio de um e-mail enviado pela própria vítima. No relato, ela descreveu o cenário de violência doméstica e o controle absoluto exercido pelo marido sobre sua vida. Imediatamente, a instituição acionou a Polícia Militar, que iniciou as buscas para localizar a mulher.

O aspirante a oficial da PM Alexandretti explicou que a operação precisou de um planejamento minucioso. Como o local era de difícil acesso, foi necessário reunir o máximo de informações antes da abordagem. Além disso, descobriu-se que essa não era a primeira tentativa da vítima de pedir socorro.

Em uma ocasião anterior, ela conseguiu deixar um bilhete em um posto de gasolina. No pequeno pedaço de papel, escreveu: “Me ajude, moro no Taquaral, em Itaperuçu. Sofro muita violência em casa”. Na época, a polícia chegou a ir até a região, mas não conseguiu encontrar o endereço exato da residência.

O Resgate e o Confronto com a Realidade

Com base no novo pedido de socorro, os policiais finalmente conseguiram identificar a casa da vítima. Ao chegarem ao local, abordaram o marido e conversaram com a mulher. No primeiro momento, ela negou estar sendo mantida em cárcere privado, comportamento comum em vítimas de violência prolongada, que muitas vezes temem represálias.

Para verificar a veracidade do bilhete encontrado anteriormente, os agentes pediram que a mulher escrevesse algo em um pedaço de papel. Ao comparar as caligrafias, perceberam que eram muito semelhantes. Esse detalhe foi crucial para avançar com a abordagem e incentivar a vítima a falar a verdade.

Outro ponto que levantou suspeitas foi a questão do telefone celular. Quando questionada, a mulher afirmou que não possuía um aparelho próprio e que compartilhava um telefone com o marido. No entanto, durante a busca na residência, os policiais encontraram um segundo celular, que a vítima disse pertencer ao filho, mas que estava sem chip, lista de contatos ou aplicativos de comunicação.

A investigação se aprofundou quando os policiais pediram o endereço de e-mail da mulher. O que ela informou coincidia exatamente com o do remetente que havia enviado a denúncia. Nesse momento, sem conseguir mais sustentar o medo que a fazia permanecer em silêncio, a mulher começou a chorar e confirmou que havia pedido socorro.

Anos de Abuso e Controle Absoluto

A vítima revelou que sofria agressões constantes há pelo menos oito anos. Além das agressões físicas, ela era proibida de sair de casa sozinha, não podia se comunicar com familiares sem a permissão do marido e não tinha acesso a meios de comunicação.

Entre os relatos mais impactantes, a mulher contou que, em algumas ocasiões, chegou a ser amarrada e asfixiada pelo companheiro. O controle do agressor ia além do confinamento físico: no imóvel, os policiais encontraram uma câmera de vigilância posicionada na entrada da casa, apontada diretamente para a porta. O equipamento permitia que o marido monitorasse a esposa mesmo quando estava fora.

A vítima também demonstrou preocupação com possíveis retaliações. Seu medo de que o agressor pudesse persegui-la ou tentar alguma vingança após sua prisão era evidente.

O Desfecho e as Medidas de Proteção

Após a confirmação dos abusos e do cárcere, o homem foi detido e encaminhado à Delegacia de Rio Branco do Sul. Ele responderá pelas acusações de sequestro, cárcere privado e violência doméstica.

Já a vítima receberá suporte especializado para garantir sua segurança e ajudá-la a reconstruir sua vida longe do agressor. O caso reforça a importância de denúncias e do apoio a mulheres que vivem em situações de violência doméstica, muitas das quais enfrentam dificuldades para buscar ajuda.

O episódio também destaca a necessidade de atenção redobrada em locais de difícil acesso, onde crimes desse tipo podem ocorrer sem que a comunidade perceba. O trabalho das forças de segurança e das instituições de apoio é fundamental para garantir que mais vítimas sejam resgatadas e protegidas.