Maicol se diz ‘arrependido’ pela morte de Vitória; delegado pede que ele faça perícia psiquiátrica

O operador de empilhadeira Maicol Antonio Sales dos Santos, de 23 anos, declarou estar “profundamente arrependido” pelo assassinato da adolescente Vitória Regina de Sousa, de 17 anos. A afirmação consta em um documento acessado pela Folha, contendo o relato que ele prestou à Polícia Civil na Delegacia de Cajamar, na Grande São Paulo.

O interrogatório ocorreu entre a noite de segunda-feira (17) e a madrugada de terça (18), quando Maicol teria confessado o crime aos investigadores. Vitória foi encontrada morta em uma área de mata no dia 5 de março, dias após desaparecer na noite de 26 de fevereiro. A prisão do suspeito aconteceu no dia 8, após a polícia detectar contradições em seu depoimento e identificar vestígios de sangue dentro de seu veículo.

Relato do Crime

De acordo com o depoimento registrado, Maicol afirmou que matou a jovem para evitar que ela revelasse à sua atual esposa um suposto envolvimento entre os dois no passado. Ele disse que, durante uma conversa dentro do carro, a golpeou com uma faca.

O suspeito contou que conhecia Vitória há cerca de um ano e meio e que, nesse período, teriam tido um episódio de “troca de carinhos”. A Polícia Civil, no entanto, não confirmou qualquer tipo de relação entre os dois. No interrogatório, Maicol mencionou que temia perder o casamento caso a adolescente revelasse a suposta proximidade entre eles no início de seu relacionamento com a esposa.

Os advogados do suspeito, Arthur Perin Novaes, Flavio Ubirajara e Vitor Aurélio Timóteo da Silva, contestam a confissão. Eles alegam que Maicol foi interrogado sem a presença de sua defesa e que o procedimento ocorreu durante a madrugada, o que consideram uma violação legal. “Causa estranheza que uma confissão tenha ocorrido sem a presença dos advogados constituídos e em um horário vedado pela legislação”, declarou Novaes no dia 18.

Dinâmica do Crime

Ainda segundo o depoimento, no dia 5 de março, durante o feriado de Carnaval, Maicol assistiu a um jogo do Corinthians e, em seguida, dirigiu-se até um ponto de ônibus onde acreditava que Vitória poderia desembarcar. Segundo seu relato, ele a viu caminhando em uma rua próxima e a convidou para entrar em seu carro, um Toyota Corolla prata.

Dentro do veículo, o suspeito teria pedido que Vitória não contasse à sua esposa sobre o suposto envolvimento que tiveram no passado. A adolescente teria ficado nervosa e reagido com arranhões no pescoço de Maicol – o que a polícia de fato registrou ao notar marcas visíveis no suspeito em seu primeiro depoimento.

Maicol relatou que, exaltado, pegou uma faca de lâmina lisa que guardava ao lado do banco do motorista e golpeou Vitória no pescoço e no peito. A jovem teria desfalecido ali mesmo.

Após o crime, ele dirigiu até sua residência, colocou o corpo no porta-malas e seguiu para uma área de mata, onde enterrou a vítima. Em sua declaração, Maicol contou que, ao voltar para casa, tentou dormir, mas não conseguiu. No dia seguinte, foi ao trabalho e, ao retornar, recolheu os pertences da vítima – como roupas e celular – e os queimou junto com outros lixos. Os restos foram colocados em um saco e descartados em uma lixeira próxima a um campo de futebol.

A faca utilizada no crime, segundo o relato, foi jogada em um rio, e o carro passou por uma limpeza para eliminar quaisquer vestígios.

Investigação e Pedido de Perícia Psiquiátrica

A Polícia Civil acredita que Maicol agiu sozinho, mas ainda aguarda laudos periciais para concluir a investigação. Além de reunir provas sobre a autoria do crime, os investigadores também querem esclarecer se o suspeito apresenta alguma condição psiquiátrica que possa ter influenciado sua conduta.

Por esse motivo, o delegado Fábio Cenachi solicitou, no dia 20, uma perícia psiquiátrica junto à Polícia Técnico-Científica para avaliar a saúde mental de Maicol.

A defesa do suspeito, no entanto, é contra a realização do exame, argumentando que ele só pode ser feito com autorização judicial. “Caso realizado sem determinação da Justiça, esse procedimento deve ser desconsiderado no processo. Trata-se de mais uma nulidade evidente”, alegam os advogados, citando o artigo 149 do Código de Processo Penal, que estabelece que a avaliação da sanidade mental de um réu deve ser solicitada pelo juiz ou pelo Ministério Público, e não pela polícia.

De acordo com a legislação brasileira, esse tipo de perícia pode ser realizado durante a fase de inquérito, mas precisa ser autorizado judicialmente, mediante solicitação formal da autoridade policial.

Enquanto o caso segue em investigação, a família de Vitória aguarda respostas e justiça para a jovem.