A defesa de Maicol Sales dos Santos, apontado como o principal suspeito no assassinato da adolescente Vitória Regina, de 17 anos, afirmou que pretende solicitar a anulação da confissão feita à Polícia Civil. Os advogados alegam que o réu pode ter sido coagido durante o interrogatório, o que comprometeria a legalidade do depoimento.
O caso, ocorrido no dia 5 de março, em Cajamar, Região Metropolitana de São Paulo, chocou a população e gerou grande repercussão. Agora, novas informações lançam dúvidas sobre a veracidade da confissão e levantam questionamentos sobre o desdobramento da investigação.
Depoimento de Maicol e contradições no relato
A equipe do programa Fantástico obteve acesso ao vídeo do interrogatório de Maicol, no qual ele admite ter cometido o crime. No entanto, ao longo do depoimento, surgiram inconsistências que desafiam a versão apresentada pelo suspeito.
Um dos principais pontos de contradição está no número de golpes desferidos contra a vítima. Maicol declarou ter atingido Vitória com duas facadas no pescoço, mas a perícia encontrou três ferimentos no corpo da adolescente. Essa discrepância levanta dúvidas sobre a precisão do relato e sugere que mais detalhes podem estar ocultos.
Outro ponto crítico é a ausência da arma do crime. Até o momento, a polícia não localizou o objeto utilizado para matar Vitória, nem encontrou vestígios de sangue ou fios de cabelo da vítima dentro do veículo de Maicol. A falta dessas evidências compromete a reconstrução dos fatos e pode indicar que outros elementos ainda precisam ser esclarecidos.
Além disso, a versão do suspeito sobre o local onde o corpo foi encontrado também não se sustenta completamente. Maicol declarou que enterrou Vitória, mas o corpo foi achado exposto em um terreno baldio, o que contradiz diretamente seu depoimento. Quando questionado sobre essa inconsistência, ele não conseguiu explicar de maneira convincente.
Essas falhas levantam suspeitas sobre a credibilidade da confissão. Especialistas em investigação criminal apontam que, em alguns casos, suspeitos podem assumir crimes que não cometeram sob pressão psicológica, medo ou até mesmo para proteger outra pessoa.
Possível internação em hospital psiquiátrico
Além das dúvidas sobre a confissão, há também um debate sobre a capacidade mental de Maicol Sales dos Santos. Caso seja comprovado que ele possui algum transtorno psiquiátrico grave, existe a possibilidade de que ele não cumpra pena em um presídio comum, mas sim em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico.
A legislação brasileira impede que indivíduos considerados inimputáveis, ou seja, aqueles que não possuem plena capacidade de compreender a gravidade de seus atos, sejam condenados da mesma forma que uma pessoa mentalmente saudável.
O delegado responsável pelo caso mencionou que Maicol pode ser submetido a uma medida de segurança, o que significa que, em vez de uma pena tradicional, ele poderia ser internado em uma instituição psiquiátrica. “Precisamos lembrar que no Brasil não há prisão perpétua. O limite constitucional para penas é de 80 anos. No entanto, se ficar provado que ele sofre de transtornos psiquiátricos severos, pode ocorrer a absolvição imprópria – ele não é condenado penalmente, mas também não é libertado, sendo encaminhado para um hospital psiquiátrico”, explicou o delegado em entrevista a uma rádio.
O especialista Fábio Cenachi, que acompanha o caso, destacou que Maicol demonstra características comuns a indivíduos com transtornos psicopatológicos, como frieza, desprezo pelo sofrimento alheio e mudanças bruscas de humor. Se um laudo psiquiátrico confirmar essa condição, o destino do réu poderá ser uma instituição de tratamento intensivo, em vez de uma cela.
Desdobramentos do caso e expectativa para os próximos passos
Enquanto a defesa tenta anular a confissão e levanta questionamentos sobre a sanidade mental do acusado, a Polícia Civil segue reunindo provas para embasar o inquérito. A busca pela arma do crime e a análise detalhada das contradições no depoimento são pontos fundamentais para determinar a veracidade da versão apresentada por Maicol.
Familiares e amigos de Vitória continuam mobilizados para garantir que a justiça seja feita. A morte da jovem gerou grande comoção, e a comunidade de Cajamar tem acompanhado de perto cada novo desdobramento da investigação.
Nos próximos dias, a defesa de Maicol deve formalizar o pedido de anulação da confissão, e novos laudos psiquiátricos podem ser solicitados para avaliar seu estado mental. Enquanto isso, a sociedade aguarda respostas definitivas sobre esse crime brutal que ainda levanta tantas dúvidas.