“Eu escolhi não ser um homem branco”, dispara Pedro Cardoso

Pedro Cardoso, ator que ficou super conhecido por fazer o Agostinho em “A Grande Família”, deu uma declaração polêmica e bem interessante numa entrevista para a Folha de S.Paulo. Ele falou sobre ter escolhido “não ser um homem branco”, o que gerou bastante repercussão. Segundo ele, mesmo não podendo mudar suas características físicas, ele decidiu rejeitar a cultura da “branquitude”, ou seja, o lugar que a sociedade coloca as pessoas brancas e tudo o que vem junto com isso.

Ele explicou que, mesmo sendo branco e vivendo no Brasil, se sentiu movido a se insurgir contra esse lugar que a sociedade tenta impor às pessoas como ele. Para ele, a africanidade brasileira, que vem ganhando força nos últimos anos, foi quem o fez perceber que ele estava nesse “lugar da branquitude”. Isso fez ele começar a enxergar o mundo de outra maneira.

A fala aconteceu no dia 19 de março, quarta-feira, durante a entrevista. Pedro Cardoso estava falando sobre a escolha que fez de lançar seu novo livro, Dias Sem Glória, em parceria com o jornalista Aquiles Marcel Argolo, pela editora Barraco Editorial. A Barraco é uma editora que se descreve como periférica e antirracista, e Cardoso fez questão de explicar por que preferiu essa editora em vez de grandes editoras tradicionais.

Ele contou que, mesmo com todas as suas ideologias políticas, a “branquitude” é algo inevitável pra quem nasce nesse lugar no Brasil. Pra ele, não basta só reconhecer as injustiças sociais, é preciso agir e lutar por igualdade. Por isso, o autor afirmou que fez mudanças na sua vida para tentar ser mais justo, como, por exemplo, passando a ler autores que normalmente não chegariam até ele, ou até mesmo fazendo tarefas simples como limpar o seu próprio banheiro.

Uma parte importante da entrevista foi quando ele falou sobre “justiça econômica”, o que ele acha ser uma das chaves para uma verdadeira mudança social. Cardoso ressaltou que, ao publicar o livro pela Barraco Editorial, ele estava tomando um “ato político e econômico”. Segundo ele, a justiça social não é só uma questão de ideologia, mas, na verdade, de dinheiro, já que o poder econômico no Brasil ainda está nas mãos da “branquitude europeia”. Ele vê a Barraco Editorial como um projeto de justiça econômica, porque, de acordo com o ator, é necessário que o dinheiro esteja circulando mais entre as pessoas que realmente precisam, e não apenas entre os poderosos de sempre.

Ainda na entrevista, Pedro Cardoso falou sobre a importância da voz de Aquiles Marcel Argolo e da editora Barraco. Ele disse que a voz deles, embora vindo de um lugar marginalizado, chegou até ele de forma muito clara e organizada, com uma intelectualidade poderosa e uma dor que, na visão dele, só quem tem um coração muito frio seria capaz de ignorar. Cardoso concluiu dizendo que a força dessas pessoas, que ele considera tão especiais e fundamentais para sua visão de mundo, ajudaram a torná-lo uma pessoa melhor.

No fundo, a entrevista mostra como Pedro Cardoso tem tentado entender e se posicionar de maneira diferente dentro de uma sociedade desigual. Suas ações, inclusive sua escolha de onde publicar seu livro, revelam uma tentativa de dar visibilidade a projetos e iniciativas que buscam desafiar o status quo e promover mais equidade.