Já se passou um mês desde o desaparecimento de Vitória Regina de Sousa, e o caso continua cercado de incertezas. Os laudos periciais que podem comprovar a participação do único suspeito preso, Maicol Antonio Sales dos Santos, ainda não foram concluídos. Enquanto a Polícia Civil de Cajamar (SP) afirma ter indícios suficientes para responsabilizá-lo, sua defesa questiona a condução das investigações e levanta dúvidas sobre falhas no inquérito.
Acusação e defesa em embate
Maicol, operador de empilhadeira de 23 anos, está preso preventivamente sob a suspeita de ter assassinado Vitória. Segundo a polícia, ele teria agido sozinho e confessado o crime em interrogatório. No entanto, seus advogados contestam essa versão, alegando que sua confissão foi feita sem a presença da defesa e pode ter sido conduzida de forma irregular.
Arthur Perin Novaes, advogado do acusado, demonstrou insatisfação com a coletiva de imprensa concedida pelos delegados Luiz Carlos do Carmo e Fabio Lopes Cenachi. Ele criticou o uso do termo “jack” pelos investigadores para se referirem a Maicol, afirmando que isso poderia colocar sua vida em risco dentro do sistema prisional. Além disso, um laudo da Polícia Técnico-Científica afastou a hipótese de que Vitória tenha sido vítima de violência sexual antes de morrer, o que levanta ainda mais questionamentos sobre a linha investigativa adotada até o momento.
A defesa argumenta que existem aspectos importantes que foram negligenciados, como a presença de outras pessoas no entorno de Vitória no dia de seu desaparecimento. Segundo Perin, testemunhas mencionaram indivíduos que estavam próximos à vítima antes do crime, mas a polícia não os investigou a fundo.
A versão do acusado
De acordo com o depoimento registrado pela polícia, Maicol teria oferecido uma carona a Vitória para tentar convencê-la a não contar à sua esposa sobre um suposto envolvimento entre eles no passado. Durante a conversa, a jovem teria se exaltado e começado a agredi-lo. Em resposta, Maicol teria pegado uma faca que estava no carro e desferido dois golpes contra ela, causando sua morte.
No entanto, seus advogados rebatem essa narrativa. Perin afirma que, na noite do desaparecimento, Maicol estava realizando ajustes no banco da motocicleta de um amigo e, posteriormente, assistiu ao jogo do Corinthians. Além disso, ele teria trocado mensagens com sua esposa antes de dormir. A defesa reforça que o casal não morava junto, mas estava se preparando para mudar para uma nova casa.
Maicol também nega qualquer tipo de envolvimento amoroso anterior com Vitória. Ele a conhecia apenas de vista, como acontece em bairros pequenos onde todo mundo sabe quem é quem, mas nunca teria tido qualquer contato próximo com a jovem.
Pontos questionáveis na investigação
Para os advogados de Maicol, há uma série de falhas na condução do caso. Um dos principais pontos levantados é uma mensagem enviada por Vitória a uma amiga, pouco antes de desaparecer. No texto, a jovem disse estar com medo porque dois homens estavam no mesmo ônibus que ela. Até o momento, esses indivíduos não foram devidamente interrogados.
Outro detalhe que levanta suspeitas é o relato de três rapazes que estavam próximos ao ponto de ônibus onde Vitória desceu naquela noite. Segundo depoimentos, eles estavam dentro de um Toyota Yaris e chegaram a fazer comentários sobre a garota. Após isso, seguiram para um prostíbulo. Apesar da informação ter sido registrada, a polícia não aprofundou a investigação sobre esses indivíduos.
“Esses detalhes não podem ser ignorados”, afirma Perin. “A investigação parece ter sido conduzida com pressa para apontar um culpado, sem considerar outros suspeitos.”
A defesa também destaca que até o pai de Vitória chegou a ser considerado suspeito, supostamente por não ter demonstrado emoção suficiente no velório da filha. “Isso é absurdo. A família já está sofrendo com a perda e ainda precisa lidar com questionamentos infundados”, desabafa o advogado.
Análises pendentes e futuro do caso
Os laudos que podem confirmar ou descartar a presença de sangue ou cabelo de Vitória no carro de Maicol ainda não foram finalizados. Além disso, um pedido de perícia psiquiátrica no suspeito foi solicitado pelo delegado Cenachi, mas acabou sendo negado pela Justiça.
Perin afirma que qualquer prova apresentada pela polícia será rigorosamente analisada e, se necessário, contestada. “Vamos avaliar as circunstâncias em que essas provas foram obtidas. Se houver falhas no processo, impugnaremos as evidências.”
Enquanto isso, Maicol segue preso no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos, aguardando os desdobramentos do caso. Seus advogados temem pela integridade física dele dentro do sistema penitenciário paulista e seguem tentando reverter sua prisão.
O mistério sobre o que realmente aconteceu com Vitória Regina de Sousa continua sem respostas definitivas. As próximas semanas serão cruciais para o desenrolar da investigação e para a busca por justiça.