Lula e o Desafio do Multilateralismo: Reflexões da 80ª Assembleia Geral da ONU
No dia 23 de setembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso significativo durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York. Este evento, que já se tornou uma tradição desde 1955, marca o Brasil como o primeiro país a se pronunciar, seguido pelos Estados Unidos. Lula trouxe à tona questões cruciais que permeiam a atualidade, como o multilateralismo, a soberania nacional e os conflitos que envolvem Israel e Hamas, bem como a Rússia e a Ucrânia.
Acompanhado de uma comitiva de ministros, incluindo Mauro Vieira, Marina Silva e Sônia Guajajara, Lula enfatizou a importância da ONU como um símbolo de paz e prosperidade, uma instituição criada após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, ele alertou que, atualmente, os princípios que fundamentam a ONU estão ameaçados como nunca antes em sua história. O multilateralismo enfrenta desafios significativos, com a autoridade da Organização sendo questionada e um cenário de desordem internacional se consolidando.
Os Desafios do Multilateralismo e a Democracia
Segundo Lula, a crise do multilateralismo está intimamente ligada ao enfraquecimento da democracia ao redor do mundo. Ele destacou que a omissão diante de arbitrariedades fortalece o autoritarismo, resultando em consequências trágicas para a sociedade. Em sua fala, o presidente brasileiro mencionou que forças antidemocráticas estão constantemente tentando sufocar as liberdades e as instituições democráticas. Isso é alarmante, especialmente em um mundo onde a informação circula rapidamente e a desinformação se espalha como uma praga.
O Brasil, após 40 anos de luta pela democracia, decidiu resistir e proteger suas instituições. Lula mencionou a recente condenação de um ex-chefe de Estado por atentados contra o Estado Democrático de Direito, ressaltando que, pela primeira vez em 525 anos, um líder foi responsabilizado por seus atos, enviando uma mensagem clara de que a democracia e a soberania do Brasil são inegociáveis.
A Luta Contra a Fome e a Pobreza
Outro ponto importante do discurso foi a luta contra a fome e a pobreza. Lula expressou orgulho ao anunciar que o Brasil havia saído do Mapa da Fome, de acordo com a FAO. No entanto, ele não hesitou em lembrar que, globalmente, 670 milhões de pessoas ainda sofrem de fome, e 2,3 bilhões enfrentam insegurança alimentar. A única guerra que pode ser vencida, segundo ele, é a luta contra a fome e a pobreza. A Aliança Global lançada no G20, que já conta com o apoio de 103 países, é um passo nessa direção.
Propostas para um Futuro Sustentável
O presidente também abordou a necessidade de rever as prioridades da comunidade internacional. Ele sugeriu que os países devem reduzir os gastos com guerras e aumentar a ajuda ao desenvolvimento, além de aliviar as dívidas externas dos países mais pobres. O discurso de Lula destacou a importância de regulamentar as plataformas digitais, que, embora tragam oportunidades, também têm sido usadas para disseminar ódio e desinformação.
O Brasil, se comprometendo a proteger as crianças e a infância nesse novo cenário digital, promulgou uma das leis mais avançadas do mundo para a proteção de menores. Essa iniciativa é fundamental para garantir que a internet não se torne uma “terra sem lei”, mas sim um espaço seguro e respeitoso.
Conclusão
Finalizando sua fala, Lula enfatizou que a América Latina deve ser uma zona de paz e que o diálogo deve prevalecer sobre a violência, especialmente em contextos como o da Venezuela e do Haiti. Ele reiterou que é preciso que a comunidade internacional se una para enfrentar os desafios globais, incluindo a crise climática e as desigualdades sociais. A mensagem de Lula foi clara: o futuro que ele imagina para o Brasil e para o mundo é de paz, cooperação e respeito à diversidade, sem espaço para rivalidades ideológicas ou autoritarismos. Com um chamado à ação, ele deixou claro que é hora de agir e transformar as escolhas diárias em um amanhã melhor.