Comando Vermelho e Facções Locais: Uma Análise da Influência no Rio Grande do Sul
O Comando Vermelho, uma das facções criminosas mais conhecidas do Brasil, tem suas raízes profundas na história do crime organizado. Dados da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) revelam que suas células estão presentes em pelo menos 24 estados brasileiros. Recentemente, a facção voltou a ser tema de discussão após uma operação policial no Rio de Janeiro que resultou na morte de 117 suspeitos e quatro policiais, um evento que destaca a gravidade da situação no estado. Entretanto, quando falamos do Rio Grande do Sul, a história é um pouco diferente.
A Ausência do Comando Vermelho no Rio Grande do Sul
Segundo o sociólogo e professor de Direito da PUCRS, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, a presença do Comando Vermelho é praticamente inexistente no Rio Grande do Sul. Isso não quer dizer que o estado esteja livre da influência do crime organizado. Na verdade, o narcotráfico no território gaúcho é comandado por facções locais que operam de forma autônoma e territorializada. Exemplos dessas organizações incluem os grupos conhecidos como Bala na Cara e Os Manos.
O Papel do Sistema Penitenciário
Renato Dornelles, jornalista e especialista em segurança pública, ressalta que o sistema penitenciário tem um papel crucial na consolidação e crescimento das facções. Desde a formação do Comando Vermelho, que surgiu na transição entre as décadas de 1970 e 1980, as prisões sempre foram um local estratégico para o desenvolvimento dessas organizações. No Rio Grande do Sul, as celas dos principais presídios foram “loteadas” entre as facções locais, o que impede a entrada de grupos de outros estados.
Desafios Geográficos e Estruturais
Uma das razões para a ausência de grandes facções nacionais no Rio Grande do Sul pode ser atribuída à sua localização geográfica. Estando no extremo Sul do país, o estado enfrenta desafios logísticos que dificultam as conexões necessárias com outras regiões. Isso, somado à força das facções locais, cria um ecossistema criminal distinto, que não é menos violento, mas sim mais descentralizado e competitivo.
Disputas Territoriais e Violência
Os grupos regionais, como o Bala na Cara, têm um arsenal significativo e um controle territorial que lhes permite operar de maneira similar às grandes facções nacionais. Azevedo destaca que o Rio Grande do Sul, embora sem uma facção hegemônica como o Comando Vermelho, não é menos violento. Entre 2016 e 2017, a disputa entre facções locais resultou em um aumento alarmante da violência, colocando Porto Alegre entre as capitais mais violentas do Brasil.
As Consequências da Violência
Dornelles menciona que a guerra entre o Bala na Cara e sua coalizão de oponentes gerou um clima de terror nas ruas, com episódios brutais de violência, incluindo decapitações e esquartejamentos. Apesar disso, a reação das facções locais às ações policiais tende a ser menos intensa se comparada àquela observada nas operações contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
Alianças e Conexões Nacionais
Embora as facções gaúchas sejam independentes, há registros de alianças com organizações maiores. Por exemplo, Os Manos mantêm vínculos com o PCC, especialmente no sistema prisional e em negociações de drogas e armas. Da mesma forma, os Bala na Cara têm estabelecido parcerias logísticas com o Comando Vermelho, especialmente em atividades relacionadas ao tráfico interestadual.
Reflexões Finais
As facções locais no Rio Grande do Sul, apesar de não terem a mesma notoriedade do Comando Vermelho, são igualmente perigosas e influentes em sua região. Elas ocupam espaços onde o estado é ausente, especialmente nas periferias, mostrando que a luta contra o crime organizado requer uma abordagem mais ampla e diversificada. O cenário criminal no estado é complexo e merece atenção, pois é um reflexo das dinâmicas sociais e econômicas em curso no Brasil.
Concluindo, a realidade do crime no Rio Grande do Sul é um lembrete de que, embora as facções possam ser diferentes em termos de estrutura e influência, a luta contra a criminalidade é uma batalha contínua e multifacetada que exige esforço conjunto de todos os setores da sociedade.