Conheça a técnica de colheita do açaí utilizada nas comunidades ribeirinhas

O Açaí do Pará: Tradições e Desafios na Colheita do Fruto Amazônico

O estado do Pará é amplamente reconhecido como o maior produtor e consumidor de açaí no mundo, com uma rica tradição que é passada de geração em geração nas comunidades ribeirinhas. O açaí, que se tornou um alimento popular não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, possui uma história que está profundamente enraizada na cultura local. Na Ilha do Cumbu, uma das 42 ilhas que fazem parte da região de Belém, os moradores, como o senhor Raimundo, mantém viva essa herança cultural.

A Arte da Colheita do Açaí

Com 68 anos e 58 deles dedicados à colheita do açaí, Raimundo utiliza uma técnica tradicional para escalar os açaizeiros. Ele emprega uma ferramenta conhecida como “peconha”, que é basicamente um apoio para os pés feito com as folhas da própria palmeira. “O método consiste em torcer a folha até formar uma especie de corda que, amarrada aos pés, permite escalar a árvore com segurança”, explica ele em uma entrevista à âncora Carol Nogueira, no programa CNN Novo Dia.

Esse modo de colheita não é apenas uma técnica, mas sim uma forma de arte que reflete o conhecimento acumulado ao longo dos anos. As gerações mais jovens aprendem com os mais velhos, garantindo que esses métodos ancestrais permaneçam vivos. É impressionante observar como essa prática se entrelaça com a vida cotidiana dos ribeirinhos, que veem o açaí não apenas como um produto, mas como uma parte fundamental de sua identidade.

Do Açaizeiro à Mesa

Após a escalada, o processo de colheita continua com a retirada dos cachos e a “debulha”, que é o passo onde os frutos são separados dos cachos. Na família Rosa, onde Raimundo trabalha, a produção do açaí é destinada tanto para o consumo familiar quanto para a comercialização. Em períodos de safra, eles podem colher até oito paneiros cheios. Isso representa uma quantidade significativa, considerando que cada paneiro pode conter uma grande variedade de frutos.

O açaí, uma vez colhido, é consumido principalmente durante o jantar. Para os ribeirinhos, ele não é apenas mais um alimento, mas sim uma parte essencial de sua dieta. O açaí é frequentemente combinado com outros ingredientes, como farinha de mandioca ou o famoso peixe frito, criando uma refeição saborosa que é tanto nutritiva quanto reconfortante. Além disso, a prática de consumir açaí à noite se tornou uma tradição que fortalece os laços familiares e comunitários.

Desafios e Mudanças Climáticas

Raimundo, que já viu muitas mudanças ao longo das décadas, observa que o clima tem impactado diretamente a produção de açaí. “A gente tem que preservar a nossa natureza, senão vai acabar”, alerta ele. Esta é uma preocupação crescente entre os colhedores. As mudanças climáticas trazem desafios, como períodos de seca ou chuvas excessivas, que podem afetar a qualidade e a quantidade da colheita. Por isso, além do açaí, Raimundo também realiza o manejo de outras culturas na floresta, buscando diversificar e garantir a sustentabilidade da sua produção.

Entressafra e Consumo Familiar

Durante a entressafra, que é o período atual, a colheita do açaí é reduzida. Este é um momento em que a prioridade é o consumo familiar, e muitos colhedores ajustam suas práticas para atender às necessidades de sua própria família antes de pensar na comercialização. Essa prática demonstra uma conexão profunda com a terra e com os ciclos naturais, onde o respeito pela natureza se torna a base para a sobrevivência.

Conclusão

O açaí do Pará é mais do que um produto; é um símbolo de resistência cultural e uma fonte de sustento para muitas famílias. Através da preservação das técnicas tradicionais de colheita e do respeito à natureza, os ribeirinhos continuam a manter viva essa tradição amazônica, mesmo diante dos desafios contemporâneos. Ao apreciarmos o açaí, devemos lembrar de suas raízes e da importância de proteger esse patrimônio cultural único.



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