COP da participação ou das boas intenções?

Reflexões da COP30: O Desafio da Representatividade e a Voz dos Marginalizados

Participar da COP30 foi uma experiência que me fez refletir profundamente sobre os desafios que permeiam os processos democráticos em todas as suas instâncias. Acredito que um dos principais problemas é a dificuldade em atender às ansiedades dos excluídos desse complexo jogo de poder. A verdade é que todos têm o direito de ser ouvidos, e os anseios das pessoas são variados: vão desde questões pessoais, locais, até nacionais e, finalmente, coletivas. Contudo, a resposta que vem de instâncias de poder muitas vezes se limita a boas intenções, sem ações concretas para transformar essa realidade.

Logo no embarque para Belém, tive uma surpresa que me deixou impressionado. Sentei ao lado do Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, em um voo comercial. Essa experiência única me fez perceber que, mesmo em posições de poder, a simplicidade e o carisma podem coexistir. No entanto, ao chegar em Belém, a realidade era bem diferente. A cidade, marcada por intensos protestos indígenas, exibia um forte aparato de segurança que separava claramente os que decidem dos que reivindicam.

A Divisão na COP30: Zona Blue e Zona Green

Na COP30, a divisão entre a zona Blue e a zona Green exemplificou essa separação. A zona Blue, em um céu azul claro, era reservada para governantes, grandes instituições e corporações, onde eram discutidos negócios que poderiam gerar bilhões com créditos de carbono. Em contrapartida, na zona Green, abaixo do céu, estavam as organizações da sociedade civil, empresas ambientalmente corretas, indígenas e movimentos sociais, todos tentando se fazer ouvir. Essa configuração evidenciou a desconexão entre os que ocupam posições de poder e aqueles que realmente estão na linha de frente, lutando por seus direitos e por um futuro melhor.

A COP30, ou a COP da floresta, mesmo com os esforços da organização brasileira para ser mais inclusiva, acabou caindo na armadilha da frase popular: “quando se tenta agradar a muitos, acaba-se desagradando a muitos mais”. A experiência de participar de um painel sobre a pesquisa do Data/RAÇA e do Instituto Akatu, que discutiu o consumidor negro, foi reveladora. Lideranças locais do Pará expressaram sua frustração com a falta de visibilidade e a quase inexistente participação da população local em um evento que ocorria em sua própria cidade. Isso nos leva a questionar: estamos diante de uma crise de representatividade? Uma crise democrática? Ou talvez uma crise existencial?

Reavaliando a Representatividade

A escassez de representatividade e a segregação observadas na COP30 são sintomas de um problema mais profundo que afeta nossa sociedade. É crucial repensar nossos modelos de governança e participação cidadã. Como podemos exigir mudanças se não ouvimos as vozes daqueles que são mais impactados por essas decisões? A próxima COP, que ocorrerá na Etiópia, berço de civilizações antigas, poderá ser um espaço para responder a essas perguntas. Aqui, o povo da floresta teve que lutar arduamente para ser ouvido, e pouco foi feito para mudar essa realidade.

O que a COP30 nos ensinou é que boas intenções, por si só, não são suficientes para resolver os problemas globais. Precisamos de ação, compromisso e, acima de tudo, representatividade. As vozes dos povos da floresta, dos indígenas, dos negros, dos pobres e dos marginalizados precisam ser ouvidas e respeitadas em todas as esferas de decisão. É hora de mudar essa dinâmica e trabalhar em prol de um mundo mais justo e igualitário, onde todos tenham voz e vez.

O Caminho à Frente

Portanto, é fundamental que, a partir de agora, façamos um esforço coletivo para garantir que todos os segmentos da sociedade tenham acesso aos espaços de decisão. Isso não é apenas uma questão de justiça, mas uma necessidade para que possamos enfrentar os desafios globais que nos cercam. Vamos juntos criar um mundo onde cada voz é ouvida e cada vida é valorizada.

Se você se sente inspirado pela luta por representatividade, compartilhe suas ideias e reflexões nos comentários!



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