Após prisão, Moraes faz forte acusação contra Bolsonaro: ‘Ele tentou’

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que a Corte foi avisada, logo depois da meia-noite deste sábado (22), sobre uma tentativa de violação da tornozeleira eletrônica usada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o ministro, a notificação oficial chegou às 0h08, um horário que, convenhamos, já não é exatamente comum para esse tipo de comunicação, o que acabou aumentando a tensão dentro do tribunal.

De acordo com Moraes, os registros enviados ao STF mostram que houve um sinal claro de que Bolsonaro tentou romper a tornozeleira. Para ele, essa atitude demonstraria uma “intenção de fuga”, facilitada pela confusão criada na porta da residência do ex-presidente — confusão essa que, segundo o ministro, teria sido estimulada pela vigília organizada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. A cena, que já estava circulando nas redes sociais desde sexta à noite, mostrava grupos de apoiadores chegando em caravanas, muitos vestindo verde e amarelo, como nos velhos tempos de manifestações calorosas.

A comunicação da tentativa de violação da tornozeleira foi enviada pelo Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal, órgão responsável por monitorar pessoas que estão sob medidas judiciais restritivas. Essas informações aparecem na decisão que determinou a prisão preventiva do ex-presidente, decisão que rapidamente se espalhou pelos portais de notícia e causou um rebuliço enorme no meio político — especialmente porque o clima já estava pesado desde a prisão de outros aliados próximos nos últimos dias.

Moraes destacou que a convocação da vigília, feita por Flávio Bolsonaro, teria sido apresentada como um ato “pacífico”, apenas de apoio e oração. Mas o ministro comentou que essa narrativa estaria “disfarçando” algo maior. Segundo ele, o movimento lembraria o modus operandi de uma organização criminosa que, nas palavras da decisão, se aproveita de manifestações populares para tentar criar uma espécie de cortina de fumaça e obter vantagens pessoais para seus integrantes. A fala acabou repercutindo entre especialistas em direito penal e constitucional, alguns defendendo a tese do ministro, outros dizendo que ele foi duro demais.

Em um trecho mais duro da decisão, Moraes escreveu que a realização dessa vigília representava um “altíssimo risco” para a eficácia da prisão domiciliar que havia sido decretada anteriormente. Ele argumentou que, com centenas de pessoas circulando no local, inclusive deputados bolsonaristas, youtubers e até influenciadores que estavam fazendo transmissões ao vivo no TikTok e no Instagram, seria praticamente impossível garantir a segurança e o cumprimento da medida. “É um cenário que favorece a desordem e a perturbação da ordem pública”, anotou ele.

Como se não bastasse, o ministro lembrou que episódios parecidos já aconteceram antes, como nas manifestações de 8 de janeiro, que terminaram em invasão e destruição de prédios dos Três Poderes — um assunto que voltou com força aos trending topics nas últimas semanas por causa das novas delações e investigações. Esse paralelo, ainda que implícito, serviu para reforçar o argumento de que não dá para subestimar esse tipo de movimentação organizada.

Ao longo da madrugada, a Polícia Federal acompanhou o caso de perto, e fontes ligadas à corporação disseram que houve uma preocupação real de que o ex-presidente pudesse tentar deixar sua residência. Até drones de monitoramento foram usados para observar o fluxo de pessoas na região, segundo relatos de moradores. No fim das contas, a decisão de Moraes acabou selando o que muitos já especulavam: a prisão preventiva, que agora coloca Bolsonaro no centro de um dos momentos mais turbulentos da política brasileira recente.



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