A Polícia Federal levou o ex-presidente Jair Bolsonaro para uma sala especial na manhã deste sábado (22), logo depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinar a prisão preventiva dele. O espaço — que muita gente dentro da PF chama informalmente de “sala de Estado” — fica na Superintendência da corporação, em Brasília, e já estava praticamente pronto nos últimos dias, como se fosse aquele tipo de preparo silencioso para algo que todo mundo suspeita que pode acontecer, mas ninguém fala abertamente.
A estrutura montada é simples, mas incomum para a rotina normal de custódia da PF. A cela tem algo em torno de 12 metros quadrados e conta com uma cama de solteiro relativamente confortável, televisão presa na parede, frigobar abastecido só com o básico, ar-condicionado e um banheiro privativo que, segundo gente que passou por lá antes, é pequeno, mas funcional. Nos corredores, agentes comentaram que o ambiente foi organizado “com antecedência para não pegar ninguém de surpresa”, já que a possibilidade de prisão preventiva vinha ganhando corpo conforme as últimas decisões judiciais complicaram ainda mais o cenário político e jurídico do ex-presidente.
Um delegado que acompanhou a montagem do local — não quis o nome divulgado, lógico — disse que a ordem veio de cima. A cúpula da PF decidiu que improvisar não era uma opção, até porque o país está num clima tenso desde a sequência de depoimentos, operações e idas e vindas entre Brasília e São Paulo envolvendo aliados próximos de Bolsonaro. E com a convocação daquela vigília recente, feita pelo senador Flávio Bolsonaro, o alerta aumentou. Era questão de prudência preparar algo mais estruturado do que a carceragem provisória, que só serve para pessoas que ficam ali poucas horas, esperando transferência.
Em nota oficial divulgada no início da tarde, a Polícia Federal afirmou apenas que cumpriu o mandado expedido pelo Supremo e ressaltou que a prisão preventiva foi solicitada como forma de “garantir a ordem pública”. A justificativa é basicamente a mesma que vem aparecendo em operações recentes — a PF tem usado esse argumento sempre que identifica risco de tumulto, vazamento de informação ou tentativa de interferência de investigados em atos públicos.
O pedido de prisão ganhou força depois do episódio da vigília organizada perto do condomínio Solar de Brasília 2, onde Bolsonaro estava em prisão domiciliar. A cena, que circulou em vídeos nas redes, mostrava dezenas de apoiadores rezando, cantando o hino e repetindo frases de apoio ao ex-presidente. A PF entendeu que aquilo poderia virar uma aglomeração descontrolada, com risco tanto para os apoiadores quanto para os próprios agentes encarregados da segurança no local. Não seria a primeira vez que uma manifestação aparentemente pacífica mudaria de tom. As memórias dos acampamentos de 2022 e os atos de 8 de janeiro ainda ecoam nos bastidores da segurança pública.
Além disso, fontes próximas ao Planalto disseram que o governo já esperava alguma movimentação mais drástica. Gente ligada ao Ministério da Justiça vinha monitorando a escalada de discursos nas redes, alguns pressionando pela ida de mais pessoas para a porta do condomínio, outros sugerindo que Bolsonaro estava sofrendo perseguição política — narrativa que seus apoiadores repetem desde as primeiras investigações. Esse ambiente, somado à convocação pública de um senador da República, acendeu o alerta vermelho.
No fim, a PF acabou escolhendo a solução mais rígida: tirar Bolsonaro de circulação imediata e levá-lo para um local controlado, longe das ruas e do clima emocional que costuma acompanhar seus apoiadores. A decisão provocou reações divididas pelo país — de um lado, gente defendendo que a lei vale para todos; do outro, críticas dizendo que a prisão é exagerada. Mas, até agora, o fato concreto é que o ex-presidente permanece na sala preparada especialmente para ele, enquanto o STF e a PF seguem avaliando os próximos passos num cenário que ainda está bem longe de baixar a poeira.