Michelle Bolsonaro se revolta com atitude do PL em relação a Ciro Gomes

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro voltou a movimentar os bastidores da política nacional no último domingo, 30 de novembro, durante um evento no Ceará. Em meio ao lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo) ao governo estadual, Michelle não poupou críticas à recente aproximação de nomes do PL com o ex-governador Ciro Gomes, que agora está filiado ao PSDB. O clima, que já andava meio tenso nos corredores, esquentou de vez quando ela tocou no assunto diante de apoiadores.

Michelle classificou como “precipitada” a articulação construída por integrantes do próprio partido, em especial no diretório estadual, para firmar entendimento com Ciro. O comentário foi uma resposta direta ao burburinho que surgia desde que a notícia começou a circular na imprensa local, dando conta de que os dois lados estavam alinhando um pacto eleitoral. No palco, a ex-primeira-dama demonstrou surpresa — ou talvez irritação — ao saber que aliados seus estariam negociando com um dos críticos mais ferozes do ex-presidente Jair Bolsonaro, que segue preso desde as decisões do Supremo que movimentaram todo o cenário político nos últimos meses.

Quem não deixou barato foi André Fernandes, deputado federal e presidente estadual do PL no Ceará. Ele garantiu que a aliança não foi feita pelas suas costas e que tudo teve aval do próprio Bolsonaro antes da prisão. Segundo ele, o ex-presidente teria, em 29 de maio, pedido para que o contato com Ciro fosse feito no viva-voz, acertando, ali mesmo, que haveria apoio mútuo. Em seguida, Valdemar Costa Neto também teria validado a negociação, reforçando que o movimento era estratégico para fortalecer o partido no estado.

Apesar das justificativas, Michelle não se mostrou convencida. Durante o evento, disse que admira André, elogiou Carmelo Neto e sua esposa, e afirmou ter orgulho de ambos. Mas, sem rodeios, disparou que não havia como aceitar uma aliança com alguém que, segundo ela, sempre se colocou contra “o maior líder da direita”. A crítica ganhou ainda mais força quando um aliado leu a manchete de uma matéria relatando que Ciro estaria “orgulhoso” por ter participado da denúncia que culminou na inelegibilidade de Bolsonaro, em 2023, pelo TSE — episódio que ainda é lembrado entre apoiadores como uma espécie de injustiça histórica.

Nos bastidores, comenta-se que a articulação vai muito além da disputa local. Há interesse direto de André Fernandes em viabilizar a candidatura de seu pai, o pastor Alcides Fernandes, ao Senado. A suposta aliança com Ciro abriria portas e facilitaria acordos com outros grupos políticos tradicionais no Ceará. Michelle, porém, não enxerga a situação com bons olhos. Na semana anterior, ela já havia soltado uma indireta pesada em suas redes sociais, publicando um vídeo em que Ciro aparece criticando Bolsonaro. Para muitos, foi um recado claro — talvez até mais duro do que o discurso do domingo.

Depois da reação de Michelle, André preferiu colocar panos quentes. Falou à imprensa que não estava “enfrentando” a ex-primeira-dama, mas apenas esclarecendo fatos. Repetiu que a orientação partiu de Bolsonaro e que nada foi feito sem consulta. E reforçou que todo o movimento tinha como objetivo fortalecer o projeto político da direita no estado para 2026, quando Elmano de Freitas (PT) deve tentar a reeleição.

Ciro, que recentemente deixou o PDT rumo ao PSDB, segue sendo um nome falado pelos tucanos como possível candidato ao governo cearense. O xadrez local ainda está longe de ser resolvido, mas uma coisa parece certa: o episódio expôs mais um racha interno entre figuras importantes da direita — e, como costuma acontecer nesse campo político, a novela promete novos capítulos.



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