IML quebra protocolo e entrega real causa da morte do jovem atacado por leoa

A verdadeira causa da morte de Gerson de Melo Machado, rapaz de apenas 19 anos, que entrou na jaula de uma leoa no zoológico de João Pessoa, na Paraíba, no último fim de semana, foi confirmada no laudo inicial do IML. Segundo os peritos, ele sofreu choque hemorrágico depois que vasos importantes do pescoço foram perfurados. A situação toda durou poucos instantes, mas deixou uma marca profunda na cidade.

De acordo com informações divulgadas pelo Metrópoles, a leoa atacou o jovem imediatamente após ele cair perto dela. A mordida atingiu artérias e veias da região cervical, causando uma perda de sangue muito rápida. O laudo também deixa claro que o animal não chegou a ingerir partes do corpo. Foi um ataque instintivo, não um comportamento de caça.

Além disso, o IML realizou exames complementares, incluindo toxicologia e um procedimento de “identificação técnica”, que serve para confirmar dados da vítima e outras informações que ajudam a fechar o caso. A expectativa é de que esses resultados, que podem esclarecer detalhes sobre o estado físico do rapaz antes do ataque, saiam ainda nesta semana — provavelmente até sexta, segundo fontes ligadas ao órgão.

O corpo de Gerson foi liberado logo depois e enterrado no Cemitério do Cristo Redentor, na própria capital paraibana, na segunda-feira, dia 1º. A Prefeitura de João Pessoa assumiu todas as despesas do funeral por meio do programa de auxílio destinado a famílias em situação de vulnerabilidade, algo que infelizmente tem sido cada vez mais comum em algumas regiões do país, especialmente neste fim de ano em que cidades inteiras enfrentam crises sociais e emergências climáticas.

A história que quase ninguém conhecia

Por trás do episódio triste, havia uma trajetória ainda mais dura. Gerson era um jovem marcado por pobreza extrema, abandono e transtornos mentais que nunca receberam o tratamento adequado. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que o acompanhou por cerca de oito anos, contou que ele foi uma criança privada de praticamente tudo.

“Ele sofreu todo tipo de violação de direito. A mãe tinha esquizofrenia, os avós também lidavam com problemas graves de saúde mental… era uma pobreza extrema, quase impossível de descrever”, relatou a conselheira ao portal.

A mãe de Gerson havia perdido o poder familiar há muitos anos. Mesmo assim, o vínculo emocional entre os dois nunca desapareceu. Ele fugia constantemente do abrigo onde vivia para tentar reencontrá-la, buscando algum tipo de cuidado ou acolhimento que, infelizmente, ela não conseguia oferecer. Segundo Verônica, essa busca era quase diária.

“Embora estivesse destituído, ele amava a mãe. Sonhava que ela conseguisse cuidar dele um dia”, contou. Muitas vezes, a própria mãe levava o menino ao conselho tutelar dizendo que não podia mais cuidar dele — uma situação dolorosa para todos os envolvidos. “Ela também é vítima da própria mente doente”, completou Verônica.

A história de Gerson evidencia um problema antigo e repetido no Brasil: jovens que crescem sem estrutura, sem tratamento adequado e completamente invisíveis para a sociedade. O final trágico acaba sendo apenas a última parte de uma vida inteira de negligência.

O caso ainda gera comoção nas redes sociais e reacende o debate sobre saúde mental, abandono e vulnerabilidade social. E, como muitos moradores da cidade comentaram nos últimos dias, a morte dele não foi apenas um acidente no zoológico — foi o desfecho de um ciclo que começou muito antes.



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