A canela é uma daquelas especiarias antigas que atravessaram séculos e continentes. Veio da Ásia, ganhou o mundo por meio das rotas comerciais e, aos poucos, deixou de ser só um tempero exótico para virar quase item de cozinha básica. Hoje, além do aroma marcante, ela chama atenção pelos possíveis benefícios ao corpo humano, principalmente quando o assunto é o controle do açúcar no sangue. Não é à toa que o chá de canela voltou a circular forte nas redes sociais e nas conversas sobre saúde natural.
O preparo é simples, o que ajuda na popularidade. Dá pra usar a canela em pau ou em pó, ferver na água por alguns minutos e consumir morno ou até frio. Muita gente prefere tomar à noite, antes de dormir, enquanto outros optam por depois das refeições. Além de auxiliar na glicemia, o chá tem efeito termogênico, compostos anti-inflamatórios e pode colaborar na digestão e até no relaxamento. Não é milagre, mas também não é só conversa de internet.
Mas afinal, como a canela ajuda no controle da glicose? A explicação está em algumas substâncias naturais presentes na especiaria, que ajudam o organismo a usar melhor a insulina. A insulina, pra quem não sabe, é o hormônio responsável por levar o açúcar do sangue para dentro das células. Na prática, isso significa que alimentos como pães, massas, arroz e doces tendem a causar picos menores de glicose quando a canela entra em cena.
“O benefício é mais relevante em pessoas com resistência à insulina leve a moderada, pré-diabetes ou em fases iniciais de alteração glicêmica. A canela pode ajudar a atenuar picos de açúcar no sangue quando associada a uma dieta rica em fibras, com controle de carboidratos refinados e boa distribuição das refeições ao longo do dia”, explica a nutricionista Thays Pomini, de São Paulo.
Mesmo com esse efeito positivo, os especialistas são claros: o chá não faz milagre sozinho. Ele funciona melhor como complemento da rotina. Não substitui alimentação equilibrada, atividade física regular e, muito menos, tratamento médico quando necessário. Quem promete o contrário está exagerando — ou simplificando demais.

Outro ponto importante, que muita gente ignora, é o tipo de canela consumido. Nem toda canela é igual. A principal diferença está na quantidade de cumarina, uma substância que, em excesso, pode prejudicar o fígado. A canela-do-ceilão, conhecida como a “canela verdadeira”, tem níveis bem baixos dessa substância e é considerada mais segura para uso frequente. Já a canela-cássia, mais barata e comum nos mercados, contém bem mais cumarina e não é indicada para consumo diário em grandes quantidades.
Sobre a quantidade, menos é mais. Para a maioria das pessoas, de 1 a 3 gramas por dia — algo entre meia colher e uma colher de chá rasa — já é suficiente. Consumir além disso não traz benefícios extras e pode aumentar o risco de efeitos colaterais. Quanto ao horário, o chá tende a funcionar melhor quando consumido próximo das refeições, especialmente aquelas ricas em carboidratos.
Apesar de ser natural, o chá de canela não é indicado para todo mundo. Pessoas com diabetes que usam insulina ou medicamentos que estimulam a produção do hormônio precisam ter cuidado, já que o consumo pode potencializar a queda do açúcar no sangue e causar hipoglicemia.
“O uso diário do chá de canela não costuma trazer riscos para a maioria das pessoas quando feito em pequenas quantidades. O problema está no excesso e na ideia de que, por ser natural, pode ser consumido sem limites”, alerta o médico nutrólogo Márcio Passos, de São Paulo.
Quem tem problemas no fígado também deve redobrar a atenção. O consumo excessivo, principalmente da canela mais comum no mercado, pode sobrecarregar o órgão. Nessas situações, o mais seguro é evitar o chá ou consumir quantidades bem pequenas, sempre com orientação profissional. No fim das contas, equilíbrio ainda é o melhor remédio — mesmo quando a solução vem da natureza.