Alexandre de Moraes autoriza Bolsonaro a dar entrevista exclusiva ao Metrópoles

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou Jair Bolsonaro (PL) a conceder a primeira entrevista desde que foi preso, abrindo uma nova frente de repercussão política às vésperas do Natal. A decisão, que pegou muita gente de surpresa em Brasília, permite que o ex-presidente volte a falar diretamente à imprensa após meses de silêncio forçado.

O veículo escolhido não foi aleatório. Bolsonaro optou pelo Metrópoles, portal de grande alcance nacional e conhecido por entrevistas de impacto. A conversa exclusiva está marcada para o dia 23 de dezembro, dentro da carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. É lá que o ex-presidente cumpre pena de 27 anos e 3 meses de prisão, após condenação por tentativa de golpe de Estado.

Para aliados próximos, a entrevista representa mais do que um simples bate-papo com jornalistas. É, na visão deles, uma tentativa de Bolsonaro “retomar a narrativa”, mesmo atrás das grades. Já críticos enxergam o movimento com cautela, apontando risco de vitimização e uso político do espaço concedido.

A última vez que Bolsonaro falou com a imprensa foi em 15 de julho, quando ainda estava em liberdade. Três dias depois, Moraes determinou uma série de medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de publicar qualquer conteúdo em redes sociais. Desde então, o ex-presidente vinha se comunicando apenas por meio de advogados e notas indiretas repassadas a aliados.

Nos bastidores do STF, a autorização para a entrevista foi tratada como um gesto técnico, não político. A avaliação é que, mesmo condenado, Bolsonaro mantém direitos fundamentais, entre eles o de se expressar, desde que respeite limites claros. Segundo fontes ouvidas, Moraes estabeleceu condições rígidas para a entrevista, justamente para evitar ataques às instituições ou questionamentos diretos às decisões judiciais.

Ainda assim, o clima é de expectativa. Afinal, Bolsonaro sempre teve um estilo próprio de falar com o público, misturando críticas, desabafos e frases de efeito. Resta saber se, agora, o tom será mais contido ou se ele vai manter o discurso que o acompanhou durante toda a trajetória política.

A entrevista acontece em um momento sensível. O país ainda digere os desdobramentos das condenações ligadas aos atos antidemocráticos, enquanto o governo Lula enfrenta seus próprios desafios no Congresso e na economia. Qualquer declaração de Bolsonaro tende a repercutir rapidamente nas redes — mesmo ele estando oficialmente proibido de usá-las.

Especialistas em direito avaliam que o conteúdo da entrevista poderá, inclusive, influenciar futuras decisões judiciais. Dependendo do que for dito, novas medidas podem ser discutidas. “Não é só uma entrevista, é um teste de limites”, comentou um advogado ouvido reservadamente.

Entre apoiadores, a expectativa é de um discurso mais humano, talvez até emocional. Gente próxima afirma que Bolsonaro pretende falar da família, da rotina na prisão e do impacto pessoal da condenação. Já adversários apostam que ele vai insistir na tese de perseguição política, algo que marcou seus últimos pronunciamentos públicos.

Seja qual for o tom, o fato é que a entrevista promete ser um dos assuntos mais comentados do fim de ano político em Brasília. Em pleno recesso informal, Bolsonaro volta ao centro do noticiário — mesmo atrás das grades. E, como costuma acontecer quando o ex-presidente fala, dificilmente o país ficará indiferente.



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