Uma testemunha protegida, identificada no inquérito como Alpha, trouxe um detalhe que chamou atenção da Polícia Civil de São Paulo durante as investigações sobre a morte do empresário Adalberto Amarilio dos Santos Junior. Em depoimento, ela contou ter ouvido um comentário feito por um dos seguranças que trabalhavam no evento Duas Rodas, realizado no Autódromo de Interlagos, na zona sul da capital.
Segundo o relato, o segurança Alisson Felipe Gomes Pereira da Silva teria dito à colega Gisele de Jesus Oliveira que o caso “ia dar pano pra manga”. A frase, aparentemente simples, teria sido dita nos bastidores do evento, justamente quando o desaparecimento do empresário começava a gerar preocupação entre os organizadores e a equipe de segurança.
Alpha afirmou que estava próxima no momento da conversa e que o comentário não soou como algo jogado ao acaso. Pelo contrário. Para ela, a fala indicava uma percepção antecipada de que o episódio poderia se transformar em algo maior, mais sério, do que inicialmente se imaginava. Um tipo de avaliação precoce, quando ainda nem se sabia exatamente o que tinha acontecido.
O corpo de Adalberto foi encontrado apenas dias depois, no dia 3 de junho, dentro do próprio Autódromo de Interlagos. Um funcionário que trabalhava em uma obra na Avenida Jacinto Júlio localizou o cadáver em um buraco com cerca de dois metros de profundidade e aproximadamente 40 centímetros de diâmetro. A cena chocou até mesmo quem está acostumado com ocorrências graves. O empresário estava desaparecido havia quatro dias, desde que participou do evento voltado ao público de motocicletas.
No depoimento, Alpha reforçou que o comentário do segurança não lhe pareceu casual nem despretensioso. Na visão da testemunha, a frase dava a entender que alguém, dentro da própria equipe, já previa que o caso teria repercussões e levantaria muitos questionamentos. Isso, segundo ela, entra em choque com as versões apresentadas posteriormente por membros da segurança, que minimizaram qualquer tipo de anormalidade durante o evento.
E é aí que começam as contradições. Quando ouvidos formalmente pela polícia, Alisson e Gisele apresentaram relatos diferentes. Alisson, que atuava como coordenador da segurança noturna, negou ter feito qualquer comentário relacionado à possível repercussão da morte do empresário. Ele também afirmou não ter conhecimento de conflitos ou situações fora do normal durante o evento.
De acordo com Alisson, qualquer ocorrência grave seria comunicada imediatamente via rádio, seguindo um protocolo padrão da equipe de segurança. Segundo ele, nada desse tipo aconteceu naquela noite. Já Gisele, embora não tenha confirmado a fala nos mesmos termos descritos por Alpha, também não conseguiu esclarecer completamente o contexto da conversa citada pela testemunha.
O caso segue sendo investigado e, como costuma acontecer em situações assim, cada novo detalhe acaba levantando mais perguntas do que respostas. Em tempos recentes, casos envolvendo grandes eventos e falhas de segurança têm ganhado bastante destaque na mídia e nas redes sociais, aumentando a pressão por explicações claras e rápidas. A morte de Adalberto, encontrada em circunstâncias tão incomuns, acabou entrando nesse mesmo cenário de desconfiança e cobrança pública.
Para os investigadores, depoimentos como o de Alpha são importantes justamente por ajudarem a montar o quebra-cabeça do que aconteceu nos bastidores. Mesmo uma frase curta, dita em um momento aparentemente trivial, pode revelar muito sobre o clima interno e sobre o que realmente estava sendo percebido por quem trabalhava ali. Enquanto isso, familiares e amigos seguem esperando por respostas mais concretas, algo que, até agora, ainda parece distante.