Antes de morrer, João Carreiro confessou arrependimento na carreira: “Nem canto mais”

Na noite da última quinta-feira, 3 de janeiro, o universo da música sertanejo foi abalado pela triste notícia da morte do renomado cantor João Carreiro, aos 41 anos. De acordo com sua esposa, Francine Caroline, Carreiro faleceu após passar por uma cirurgia cardíaca. No entanto, o impacto não se limitou à perda do artista, mas se estendeu à revelação de um profundo arrependimento relacionado à sua canção mais famosa.

João Carreiro, figura consagrada no cenário sertanejo e reconhecido como um dos maiores nomes do gênero, alcançou o auge de sua carreira com a polêmica canção ‘Bruto, Rústico e Sistemático’. O sucesso foi tanto que a música fez parte de trilhas sonoras de novelas populares, como ‘Paraíso’, transmitida pela emissora de Roberto Marinho. No entanto, a polêmica letra aborda preconceitos relacionados a diferentes orientações de gêneros e estilos de vida.

O trecho da música que provocou controvérsia é revelador: “Sistema que fui criado/ Ver dois homem abraçado pra mim era confusão/ Mulher com mulher beijando/ Dois homens se acariciando, meu Deus, que decepção.” Essa parte da canção, que inicialmente contribuiu para a notoriedade da dupla, tornou-se um dos maiores arrependimentos de Carreiro. O cantor, inclusive, deixou de entoar esse verso durante suas apresentações, como uma demonstração de respeito e contrição ao público lgbtqia+.

No decorrer de uma entrevista concedida ao jornalista André Piunti, João Carreiro compartilhou um dos seus maiores pesares na carreira: “Tudo na vida acho que a gente tem que refletir e se colocar no lugar do outro. Se fosse hoje em dia eu não faria essa moda.” O cantor revelou que, na época em que lançou a canção, era um jovem de 19 para 20 anos, com uma mentalidade ainda em formação: “Quando eu fiz, era molecão de 19 para 20 anos, com a cabecinha bem verde.” Ele reconheceu não ter considerado o ponto de vista das pessoas que seriam afetadas pela mensagem da música, focando apenas em uma perspectiva mais tradicional.

“Eu não me coloquei no lugar dos homossexuais. Pensei só no povo caipira, só no velhão vendo essa modernidade hoje em dia, e não me coloquei do outro lado. A minha intenção não era ofender. Esse último verso eu nem canto mais, em respeito e como forma de arrependimento”, lamentou o cantor sertanejo, que lançou a canção há mais de uma década.

Carreiro lamentou não ter se colocado no lugar dos homossexuais ao criar a canção, reconhecendo que sua intenção não era ofender, mas apenas retratar a visão do ‘povo caipira’ da época. Ele admitiu que, em respeito e como uma forma de arrependimento, não canta mais esse último verso em suas apresentações.

Vale ressaltar que ‘Bruto, Rústico e Sistemático’ foi um dos maiores sucessos da dupla João Carreiro & Capataz, que encerrou suas atividades em 2014, no auge de sua popularidade. Rumores sobre os motivos do término circularam na época, e muitos acreditam que a controvérsia gerada pela canção tenha sido um dos fatores determinantes.

O caso de João Carreiro traz à tona importantes reflexões sobre o papel dos artistas na sociedade, a responsabilidade das letras de música e a necessidade de considerar diferentes perspectivas ao abordar temas sensíveis. O arrependimento sincero do cantor serve como um lembrete de que, mesmo em um meio artístico muitas vezes permeado por polêmicas, a empatia e a reflexão são essenciais para evitar perpetuar estigmas e preconceitos.