Em uma entrevista reveladora concedida para o jornal O Globo, Letícia Spiller, uma das mais admiradas e talentosas atrizes brasileiras, que já protagonizou inúmeras novelas e séries de sucesso na TV, compartilhou detalhes de sua vida pessoal e profissional que até então eram desconhecidos do grande público. Em um relato impactante e corajoso, a atriz de 49 anos falou sobre os episódios de abuso que sofreu durante a sua infância e adolescência.
Letícia Spiller enfatizou a triste realidade do ambiente machista que permeia a vida de muitas mulheres, um problema que se manifesta tanto em seu cotidiano quanto nos bastidores da indústria artística. Ela destacou como esta cultura de desrespeito e preconceito contra o gênero feminino contribui diretamente para a ocorrência de crimes e abusos e de natureza psicológica, muito embora enxergue uma mudança positiva, ainda que lenta, nos dias atuais.
A atriz, com uma voz forte e resoluta, relatou que os abusos a que foi submetida eram tão sutis e insidiosos que demorou a compreender que as ações e os comportamentos que estava sendo sujeita não eram normais ou apropriados. Ela explicou que as demonstrações de afeto que inicialmente eram percebidas como normais, mais tarde foram identificadas como abusivas e inapropriadas.
“Vivi uma situação de abuso com um parente durante a minha infância e adolescência”, lamentou.
Uma das formas mais flagrantes desses abusos sutis era a maneira como era abraçada. O que para muitos pode parecer um gesto simples e carinhoso, na verdade, representava para ela um grave episódio de abuso, ilustrando como a violência pode ser velada e frequentemente mascarada por atitudes que à primeira vista podem parecer inocentes.
“Era tão sutil que parecia que não era [abuso], não cheguei a ser agredida. Achava que aquele tipo de abraço era normal”, lamentou.
Além desses casos, Letícia Spiller também relembrou outros momentos em que foi alvo de assédio. Um dos episódios mais marcantes ocorreu quando estava grávida de cinco meses de seu filho, Pedro. Durante um evento na escola, um rapaz de 18 anos agiu de maneira inapropriada, tocando-a de forma invasiva. Letícia Spiller, indignada e perturbada com tal comportamento, reagiu prontamente, repreendendo-o no ato e dizendo ter dado um cascudo na cabeça do agressor.
No que diz respeito à sua bem-sucedida carreira profissional, Letícia Spiller revelou que, por sorte, nunca foi vítima de assédio por parte dos diretores de televisão com os quais trabalhou. No entanto, a atriz fez questão de frisar que muitas de suas colegas de profissão não tiveram a mesma sorte, tendo compartilhado histórias perturbadoras de assédio no local de trabalho.
Letícia Spiller analisou que os casos de assédio perpetrados por diretores de TV no passado não eram incidentes isolados, mas sim uma manifestação de uma postura machista profundamente enraizada na sociedade. Ela descreveu como muitos diretores usavam seu cargo e autoridade para fazer brincadeiras desnecessárias e muitas vezes degradantes com as atrizes, sempre carregadas de segundas intenções e abusivas.
Apesar dessas lembranças dolorosas e perturbadoras, Letícia Spiller demonstrou um sentimento de otimismo em relação ao futuro. Ela destacou que, embora ainda existam casos de assédio nos bastidores da televisão, o ambiente de trabalho tem melhorado substancialmente ao longo dos anos. Atualmente, ela se sente mais respeitada e valorizada, indicando uma mudança cultural positiva dentro da indústria televisiva.