Bolo envenenado: polícia conclui que Deise tirou a vida de quatro pessoas no RS

A Polícia Civil encerrou, nesta sexta-feira (21), as investigações sobre a morte de quatro pessoas em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Segundo o inquérito, Deise Moura dos Anjos foi responsável pelos homicídios, ocorridos entre setembro e dezembro de 2024. O caso chocou a cidade e ganhou repercussão nacional devido à forma como os crimes foram cometidos.

De acordo com a polícia, três vítimas morreram em dezembro após ingerirem um bolo contaminado com arsênio. Três meses antes, o sogro de Deise faleceu ao consumir bananas e leite em pó envenenados, que haviam sido levados por ela. As investigações, que somam mais de mil páginas, apontam que os crimes foram meticulosamente planejados e executados com extrema frieza. Apenas o inquérito sobre o assassinato do sogro contém mais de 400 páginas de provas e depoimentos.

O delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil, afirmou que Deise cometeu homicídios triplamente qualificados, caracterizados por motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação. “Ela foi a única autora dos crimes e, devido ao seu falecimento, há extinção da punibilidade. Não há possibilidade de indiciamento”, explicou Sodré durante uma coletiva de imprensa.

Deise estava presa desde 5 de janeiro, mas foi encontrada morta na cela da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. O Ministério Público deverá arquivar o processo, conforme previsto no Código Penal.

Motivações do crime

Inicialmente, a hipótese de que os assassinatos poderiam estar ligados a interesses financeiros foi cogitada, mas posteriormente descartada. A delegada Sabrina Deffente, responsável pelo caso, explicou que a principal linha de investigação aponta para uma grave perturbação mental como motivação dos crimes. “Não encontramos evidências de benefício financeiro. Quando identificamos tentativas de homicídio contra o próprio marido e filho, ficou claro que o fator econômico não era a questão central”, afirmou Deffente.

Outro ponto de investigação diz respeito à facilidade com que Deise adquiriu o arsênio. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) destacou que a legislação brasileira impõe regras rígidas para a compra dessa substância, exigindo documentação específica, justificativa detalhada e controle rigoroso da venda. A polícia segue apurando como ela obteve o veneno sem levantar suspeitas.

Cartas revelam estado emocional de Deise

Durante a investigação, novos trechos de cartas escritas por Deise foram divulgados. As mensagens, encontradas em sua cela, revelam sentimentos de rancor e ressentimento, especialmente em relação à sogra, Zeli dos Anjos. Em um dos bilhetes, ela desabafa: “Muito obrigada por esses 20 anos em que você fez da minha vida de casada um inferno. Mais uma vez, eu sou a vilã e você, a mocinha.”

As cartas também indicam que Deise não demonstrava arrependimento pelos crimes cometidos, reforçando a hipótese de transtorno psicológico grave.

O caso: um crime que chocou o estado

Os homicídios vieram à tona dias antes do Natal de 2024, quando três mulheres morreram após participarem de um café da tarde em Torres. As vítimas foram Maida Berenice Flores da Silva, Neuza Denize Silva dos Anjos e Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza. Elas passaram mal logo após comerem fatias do bolo preparado para a ocasião.

Além das três vítimas fatais, outras pessoas também ingeriram o bolo e precisaram de atendimento médico. Zeli dos Anjos, sogra de Deise e apontada como o verdadeiro alvo do envenenamento, sobreviveu após ser hospitalizada. Uma criança de 10 anos que também consumiu o doce foi internada, mas recebeu alta posteriormente.

O crime ganhou grande repercussão pela complexidade e frieza da autora. Com o encerramento do inquérito, a Polícia Civil reforça a necessidade de investigações aprofundadas sobre casos semelhantes e de maior controle sobre substâncias tóxicas no mercado. O caso de Torres segue como um dos episódios criminais mais impactantes do estado nos últimos anos.