Faustão e MC Marcinho: como funciona um coração artificial

O músico e letrista MC Marcinho, conhecido por sucessos como “Rap do Solitário”, “Princesa”, “Glamurosa” e “Garota nota 100”, faleceu no último sábado (27), aos 45 anos de idade. De acordo com comunicado médico, o cantor veio a óbito devido a falência de múltiplos órgãos. Desde 27 de junho, ele estava sob cuidados médicos no Hospital Copa D’Or, localizado no Rio de Janeiro, em virtude de problemas relacionados ao seu coração.

No meio de julho, o centro médico comunicou que MC Marcinho passou por uma operação para receber um coração artificial. Ele manteve o dispositivo até seu falecimento.

Recentemente, o renomado apresentador Fausto Silva, carinhosamente conhecido como Faustão, passou por uma internação devido a complicações cardíacas. Devido à progressão de sua insuficiência cardíaca, ele foi incluído na lista de espera por um transplante cardíaco. 

É importante notar que, até o momento, não foi indicado o uso de um coração artificial para ele. Conforme o mais recente comunicado médico divulgado pelo Hospital Albert Einstein no domingo passado (20), o estado de saúde de Faustão requer a administração de medicamentos para otimizar a capacidade de bombeamento de seu coração. Entretanto, essa situação levanta questionamentos pertinentes sobre o assunto.

O coração artificial é um aparelho que auxilia o desempenho cardíaco em situações em que o órgão não opera corretamente. Há variados modelos de corações artificiais, os quais podem servir como suporte até o transplante ou como alternativa ao procedimento cirúrgico.

Como funciona o coração artificial temporário

MC Marcinho foi submetido a um suporte mecânico circulatório extracorpóreo de longa duração, projetado para dar suporte simultaneamente aos dois ventrículos cardíacos. Basicamente, trata-se de um dispositivo que assume as funções do coração. Esse tipo de aparelho é recomendado para pacientes hospitalizados e desempenha o papel de uma conexão temporária enquanto o paciente se recupera ou aguarda um transplante cardíaco.

Trata-se de um suporte provisório destinado a ser utilizado durante o período de internação do paciente. Enquanto o dispositivo atende às necessidades metabólicas do corpo, o coração entra em repouso — esclarece a Dra. Stephanie Rizk, cardiologista e intensivista da equipe especializada em transplante cardíaco e coração artificial da Rede D’Or e Hospital Sírio Libanês, além de atuar na área de cardio-oncologia do Incor.

O artista havia sido inserido na relação para um transplante de coração, aguardando pelo órgão. No entanto, nos dias mais recentes, sua presença na lista foi temporariamente suspensa devido a uma infecção que se espalhou por todo o corpo.

Esse modelo de coração artificial também pode ser recomendado nos casos em que os medicamentos administrados via endovenosa para auxiliar no aumento da capacidade de bombeamento cardíaco não apresentam resultados satisfatórios.

Quando o efeito inotrópico, que corresponde a um medicamento auxiliador do ritmo cardíaco, não se mostra adequado e resulta em inadequada oxigenação dos tecidos, é necessário recorrer a dispositivos de suporte circulatório, como um balão intra-aórtico ou um equipamento conhecido como Centrimag, responsável por aumentar o fluxo sanguíneo. Outra alternativa é a utilização do ECMO, conforme explicado pela especialista em cardiologia.

Como funciona o coração artificial de longa permanência

Rizk esclarece que atualmente existem dispositivos de longa duração que possibilitam que o paciente seja liberado para casa com o aparelho. No contexto brasileiro, essa categoria de coração artificial costuma ser recomendada como uma opção ao transplante, especialmente para pacientes que não podem passar por cirurgia devido aos custos elevados.

No entanto, nos Estados Unidos, diversas pessoas passam por esse tipo de assistência cardíaca para retomar uma vida próxima ao normal. Elas conseguem realizar atividades como se alimentar, se exercitar e até mesmo trabalhar em casa, enquanto esperam pelo transplante.

O cardiologista Félix Ramires, diretor científico da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, descreve que o coração artificial funciona de maneira similar a uma bomba implantada no coração, conectada a uma artéria através de uma mangueira. Essa bomba desempenha um papel auxiliar ao coração, promovendo a circulação sanguínea ao retirar o sangue do interior do coração e impulsioná-lo diretamente para a artéria. No entanto, o uso desse dispositivo é restrito a certos cenários, como em pacientes que não são elegíveis para um transplante cardíaco.

Diferentemente do transplante cardíaco, no qual um coração debilitado é trocado por um saudável, o coração artificial apenas auxilia o coração que sofre de insuficiência cardíaca.

Trata-se de uma terapia direcionada que substancialmente aprimora a qualidade de vida do indivíduo. No entanto, seu uso será contínuo. Adicionalmente, existem algumas restrições, como a obrigação de manter a bateria carregada e a impossibilidade de participar de atividades aquáticas, devido à presença de um cabo ligado à bateria externa que se estende a partir do tórax, conforme analisa Ramires.