Mãe se reencontra com filho sequestrado após 42 anos; ‘milagre’

Há 42 anos atrás, Jimmy Lippert Thyden fazia parte do grupo de mais de 20 mil bebês que foram vítimas de tráfico humano durante o regime ditatorial de Augusto Pinochet, que ocorreu entre 1973 e 1990. Esses recém-nascidos eram separados de suas mães, muitas delas provenientes de famílias de baixa renda, e posteriormente adotados por casais estrangeiros inocentes.

Thyden nasceu prematuramente em um hospital na cidade de Santiago, capital do Chile, e foi colocado em uma incubadora. Sua mãe, María Angélica González, recebeu orientações para deixar o hospital, mas ao retornar para buscar seu bebê, foi informada de que ele havia falecido. Entretanto, o recém-nascido foi na realidade adotado por uma família americana da Virgínia, nos Estados Unidos. Somente mais tarde ele descobriu sua verdadeira história ao buscar assistência junto à organização sem fins lucrativos chilena chamada ‘Nos Buscamos’.

Ao longo dos últimos nove anos, a organização ‘Nos Buscamos’ facilitou mais de 450 encontros entre indivíduos adotados e suas famílias biológicas.

O tráfico de crianças ocorreu em meio a várias outras violações dos direitos humanos que marcaram os 17 anos de governo do general Augusto Pinochet. Ele chegou ao poder em 11 de setembro de 1973 por meio de um golpe de Estado que depôs o presidente marxista Salvador Allende. Durante o período de ditadura, pelo menos 3.095 indivíduos perderam suas vidas, de acordo com dados governamentais, e dezenas de milhares foram submetidos a tortura ou detidos por motivos políticos.

Além disso, há outras organizações sem fins lucrativos que também estão desempenhando um papel semelhante, como a ‘Hijos y Madres del Silencio’ no Chile e a ‘Connecting Roots’ nos Estados Unidos.

Recentemente, a ‘Nos Buscamos’ estabeleceu uma parceria de dois anos com a plataforma genealógica ‘MyHeritage’. Essa parceria envolve a disponibilização de kits gratuitos de testes de DNA para adotados chilenos e indivíduos suspeitos de serem vítimas de tráfico de crianças no Chile. Esses testes de DNA caseiros visam auxiliar na busca pela verdadeira identidade e nas conexões familiares dessas pessoas.

O teste de DNA realizado por Thyden confirmou sua ascendência chilena em 100% e foi comparado com o DNA de um primo que também utilizava a plataforma ‘MyHeritage’.
 

Mãe reencontra filho raptado no Chile após 42 anos

Thyden compartilhou seus documentos de adoção com esse primo, que continham informações como o endereço de sua mãe biológica e o nome comum no Chile, María Angélica González. Por coincidência, o primo tinha uma pessoa chamada María Angélica González em sua árvore genealógica do lado materno. Essa conexão permitiu que Thyden traçasse os laços familiares e descobrisse mais sobre suas origens.

Inicialmente, González não respondeu às tentativas de contato por telefone de Thyden. No entanto, a situação mudou quando ele enviou uma mensagem de texto para ela, incluindo uma foto de sua esposa e filhas.

Segundo Thyden, foi a partir desse momento que as barreiras se romperam. Ele compartilhou mais fotos, mostrando sua família adotiva nos Estados Unidos, seus anos na Marinha norte-americana, imagens de seu casamento e diversos outros momentos marcantes de sua vida. Essas fotos ajudaram a construir uma ponte emocional e a criar uma base para a reconexão entre Thyden e sua família biológica no Chile.

“Eu estava tentando encerrar 42 anos de uma vida que nos foi tomada”, disse Thyden, expressando o desejo de recuperar os anos perdidos tanto para ele quanto para sua mãe biológica.

O reencontro entre Thyden e sua família biológica ocorreu nesta semana. Acompanhado por sua esposa, Johannah, e suas duas filhas, Ebba Joy, de 8 anos, e Betty Grace, de 5 anos, Thyden viajou para o Chile com o objetivo de finalmente conhecer os membros de sua família que ele havia recentemente descoberto. Essa reunião marca um momento significativo na jornada de Thyden em busca de suas raízes e identidade.
 

Constanza Del Rio/Nos Buscamos

Ao adentrar a casa de sua mãe biológica, Thyden foi recebido por um tocante gesto: 42 balões coloridos, simbolizando cada ano que ele passou afastado de sua família chilena. Nesse momento, ele finalmente recebeu o abraço da mãe que havia sido adiado por 42 anos. Esse reencontro carregado de emoções representa a concretização de sua busca e o início de uma nova fase em sua relação com sua família biológica.