O laudo de necropsia da Politec (Perícia Oficial de Identificação Técnica) revelou uma triste e perturbadora verdade: a cantora Laysa Moraes Ferreira, de 30 anos, conhecida no cenário musical como MC La Brysa, ainda estava viva quando foi lançada às águas escuras do Rio Cuiabá, em Mato Grosso. A causa oficial da morte foi confirmada como afogamento.
A trágica morte da artista, que tinha uma voz poderosa e uma presença marcante nas batalhas de rima do estado, agora está sob investigação da Polícia Civil. Há fortes indícios de que uma facção criminosa esteja envolvida no crime, mas os detalhes permanecem sob sigilo enquanto os agentes reúnem mais provas para solucionar o caso.
O corpo de La Brysa foi encontrado submerso, envolto em um tecido pesado — que pode ter sido um cobertor ou tapete — e amarrado com arame de aço e corda de nylon. Um recipiente de concreto estava fixado a ela, uma tentativa macabra de manter o cadáver longe da superfície e dificultar sua localização. A brutalidade e o planejamento por trás dessas ações chocaram a população local, que acompanha o desenrolar do caso com indignação e pesar.
A cantora desapareceu na sexta-feira, dia 3, depois de deixar o trabalho mais cedo. Seu desaparecimento acendeu o alerta de amigos e vizinhos. No dia seguinte, um deles, intrigado com a porta da casa aberta e a chave ainda pendurada no lado de fora, resolveu investigar. A descoberta de que La Brysa estava desaparecida deu início a uma busca desesperada, que terminaria de maneira devastadora.
Uma artista multifacetada
La Brysa, além de MC, era poetisa e compositora, reconhecida pela intensidade das palavras que ecoavam nas batalhas de rima de Mato Grosso. Natural de Mato Grosso do Sul, sua paixão pelo hip-hop surgiu cedo, mas foi em 2016 que sua trajetória começou a ganhar notoriedade, ao vencer sua primeira competição de rimas. Desde então, ela se tornou uma voz ativa no movimento cultural, inspirando jovens com suas letras de resistência e empoderamento.
Nos últimos meses, La Brysa dividia seu tempo entre as apresentações nas batalhas e um trabalho na rede de fast food Burger King. Viver da arte nem sempre é fácil no Brasil, e a artista, como tantos outros talentos, precisou equilibrar sua paixão com a dura realidade financeira. Ainda assim, sua dedicação ao hip-hop nunca diminuiu, e suas performances carregavam a força de quem conhecia de perto os desafios das periferias brasileiras.
Um crime que clama por justiça
A morte brutal de La Brysa levanta questões que vão além de um caso isolado de violência. A suspeita do envolvimento de uma facção criminosa aponta para um problema complexo e sistêmico. Nos últimos anos, o aumento da violência ligada ao tráfico e ao crime organizado tem ceifado vidas em todo o país, e muitos artistas — especialmente aqueles vindos de comunidades vulneráveis — têm enfrentado riscos ao expor realidades que incomodam poderosos e criminosos.
Em Cuiabá, o assassinato da MC gerou uma onda de comoção e pedidos por justiça. Nas redes sociais, fãs e amigos compartilharam memórias da artista, destacando sua paixão pelo hip-hop e o poder de suas palavras. “Ela era uma guerreira, uma mulher forte que inspirava muitos com suas rimas afiadas. A cultura perdeu uma de suas vozes mais autênticas”, escreveu um de seus colegas de batalha.
Agora, as autoridades têm a missão de trazer respostas e responsabilizar os envolvidos, enquanto a comunidade hip-hop e a sociedade em geral choram a perda de uma artista que, com sua coragem e talento, deixou um legado que vai muito além do palco.