Meninos envenenados: vizinha rompe o silêncio e conta como foi ficar 5 meses presa injustamente

Lucélia Maria, a mulher que foi acusada de matar dois meninos envenenados em Parnaíba (PI), em agosto de 2024, falou com a TV Clube na terça-feira (14), um dia depois de ser libertada da penitenciária, onde passou cinco meses. A entrevista foi marcada pelo alívio de Lucélia por estar finalmente livre, mas também por um forte sentimento de injustiça. A história dela ganhou uma reviravolta, pois a investigação, que inicialmente a apontava como responsável pela morte das crianças, agora segue outro caminho, com novos suspeitos.

Lucélia foi acusada de entregar cajus envenenados aos meninos, mas um laudo recente descartou qualquer vestígio de veneno nas frutas. A conclusão foi de que os cajus não estavam contaminados com nada, o que abriu espaço para uma nova linha de investigação. O padrasto da mãe das crianças, Francisco de Assis Pereira da Costa, passou a ser o principal suspeito, especialmente depois que ele foi preso por envenenar um baião de dois que resultou na morte de outras quatro pessoas da família no Réveillon. Agora, a polícia reabre a investigação sobre o caso dos meninos mortos, que até então parecia resolvido.

Lucélia, durante a entrevista, falou da sua experiência na prisão e revelou o sofrimento que enfrentou durante o período de encarceramento. Ela lembrou com pesar das ameaças que sofreu das outras detentas, que diziam que “tinha uma cabeça sobrando”, ou seja, a dela. “Era a minha cabeça que eles queriam”, relatou, visivelmente abalada. Além disso, Lucélia contou que não conseguia dormir direito desde que tudo isso aconteceu. A prisão foi um pesadelo constante, e ela descreveu como uma tortura psicológica, sem conseguir descansar nem por um segundo.

Ela também falou sobre o dia da sua prisão, quando foi presa em flagrante logo após os meninos serem hospitalizados, em 23 de agosto. Naquele dia, ela foi quase linchada pelos vizinhos, que acreditavam piamente na sua culpa. “Eles começaram a depredar a casa com eu ainda dentro. Graças a Deus, a Polícia chegou a tempo. Se não fosse por eles, eu não estaria aqui para contar essa história”, comentou. Além disso, a casa dela foi completamente destruída e incendiada pelos moradores enfurecidos, que agiram sem nem esperar pela investigação.

Lucélia sempre negou as acusações, e, durante a entrevista, fez questão de afirmar que não entregou os cajus para as crianças e que sequer conhecia elas ou a família. “Eu nunca vi aqueles meninos, nem os pais deles. Não sabia de nada”, disse, mostrando frustração com o que estava acontecendo com sua vida. Ela afirmou ainda que, mesmo sendo libertada, o processo não foi encerrado e que ainda precisa responder pelas acusações.

Apesar da liberdade, a situação ainda é complicada para Lucélia. Ela foi liberada da prisão por uma decisão judicial que a beneficiou com uma medida cautelar, mas isso não significa que ela foi inocentada. O advogado dela, Sammai Cavalcante, luta agora para provar que Lucélia é inocente e que ela não teve nenhuma participação no crime. A audiência de instrução e julgamento do caso está marcada para o dia 23 de janeiro.

Com a libertação, Lucélia voltou para Parnaíba, onde vive com o marido e dois filhos. Ela vai ficar na casa de parentes, para tentar se afastar do drama que viveu nos últimos meses. “Vou tentar voltar à minha vida tranquila, com minha família, como antes. Só Deus sabe o quanto eu desejo isso”, disse ela, com uma ponta de esperança no olhar. Mesmo com o sofrimento de ter sido injustiçada e a dor de viver com as ameaças na prisão, Lucélia parece acreditar que a verdade vai prevalecer e que ela poderá retomar a vida que perdeu.

No fim das contas, o caso segue em aberto e muita coisa ainda precisa ser esclarecida. A polícia agora investiga o envolvimento de Francisco de Assis, que pode ser o responsável por todo esse envenenamento, e quem sabe até por mais mortes na família. Lucélia, por sua vez, segue sua luta pela liberdade e pela verdade.