“Meu marido se despediu e disse para eu não me culpar caso algo ocorresse”, diz sobrevivente de ataque em Israel

No sábado, 7 de maio, coincidindo com o ataque de um grupo radical islâmico Hamas a Israel, extremistas armados invadiram um kibutz no sul do país. Nesse incidente, houve mortes e o sequestro de muitos moradores locais, incluindo Vivi Roytman, de 73 anos, e seu marido, de 72, que foram alertados pelas sirenes por volta das 6h30 e buscaram refúgio em um “quarto seguro” dentro de sua própria casa.

Ao adentrar o aposento, eles trancaram a porta e permaneceram lá, ouvindo o som dos mísseis, bem como tiros e gritos em árabe do lado de fora. De forma diferente das ocasiões anteriores, eles não saíram do quarto após 10 minutos. Enquanto isso, receberam uma mensagem em um grupo de WhatsApp dos vizinhos informando que o local havia sido invadido.

Em uma entrevista à CNN, Vivi relatou que por volta das 10h30, ouviu um ruído muito alto do lado de fora, como vidro quebrando. Nesse momento, os membros do Hamas haviam entrado em sua casa.

Eles fizeram várias tentativas de arrombar a porta do “quarto seguro”, mas sem sucesso devido a uma fechadura sólida. Vivi compartilhou: “Nós fomos extremamente sortudos, mas infelizmente, outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Uma grande amiga minha está desaparecida, e até hoje não tive notícias dela, muitos outros perderam suas vidas”.

Durante as longas horas que passaram no aposento, tanto Vivi quanto seu marido consideraram sair em algumas ocasiões, mas hesitaram por temerem permanecer em perigo, como ocorreu após a primeira tentativa de arrombamento. Além disso, continuavam a receber mensagens constantes que alertavam sobre a persistência do perigo nas proximidades.

Mais tarde, o marido tomou a decisão de sair para avaliar a situação lá fora e prestar auxílio às pessoas necessitadas. Nesse momento, eles se despediram com palavras incertas: “Não tínhamos certeza se nos reencontraríamos.” Durante essa despedida, ele pediu a ela que não se culpasse, caso algo acontecesse com ele.

Ele partiu, deixando Vivi com um sentimento avassalador de medo: “Comecei a aceitar a possibilidade de não sobreviver, pensando nos meus filhos e netos.” Ela permaneceu no quarto seguro por mais cerca de duas horas, mantendo contato com seus vizinhos por meio de um grupo de WhatsApp, onde chegavam pedidos de ajuda.

A última batida na porta do “quarto seguro” onde Vivi se encontrava veio de seu marido, com as palavras: “Vivi, pode abrir, o Exército chegou.” Ela estava apreensiva e temeu que seu esposo tivesse sido raptado. No entanto, ao abrir a porta, constatou que o Exército realmente havia chegado.

Nesse momento, tiveram cerca de 20 minutos para reunir itens essenciais, como medicamentos e roupas, antes de deixar o local. Desde então, ela não retornou para sua casa.

Vivi descreve que a casa estava completamente arruinada, e muitos objetos pessoais de grande valor, incluindo heranças de sua mãe e avó, foram saqueados. Até o momento, ela ainda não obteve notícias de várias pessoas que foram sequestradas do kibutz, incluindo famílias inteiras, crianças e idosos.

Alguns de seus colegas perderam a vida devido à explosão de suas residências, outros recusaram sair do “quarto seguro” e acabaram falecendo, além daqueles que foram vítimas de homicídio.

Deixar Israel não está nos planos

Vivi e seu marido deixaram sua casa e encontraram refúgio em outra cidade, situada mais ao norte do país. Ela compartilha que não tem a intenção de sair de Israel, uma vez que construiu uma vida inteira no local, e apesar do perigo, nota que as pessoas têm se unido de maneira notável. Receberam generosas doações de comida, roupas e medicamentos como prova disso.

Retornar à rotina normal tem sido uma tarefa desafiadora para ela. Para enfrentar esse processo, Vivi conta com o apoio de psicólogos e psiquiatras, além de manter contato com seus vizinhos do kibutz, que agora estão espalhados por várias regiões do país, buscando lugares mais seguros.

“Queremos que liberem os inocentes raptados. Espero que isso termine logo porque há muita gente dos dois lados que querem viver uma vida normal, onde você vai ao trabalho, volta pra casa e encontra sua família”, conclui.