Por mais de meio século, um bolo de mel tem desempenhado um papel significativo na vida de Maria Fernanda da Rocha, uma dona de casa de 84 anos. Ao longo de décadas, ela manteve cuidadosamente uma fatia desse bolo em sua posse, acumulando uma história única e pessoal.
Essa iguaria ocupa um espaço na geladeira da residência de Maria Fernanda, localizada em Diadema, e está devidamente envolvida em plástico, sem apresentar sinais de deterioração, de acordo com informações fornecidas pela família.
Essa história intrigante também evoca uma profunda sensação de saudade. Apesar da peculiaridade da situação, para Maria, o bolo representa a materialização de um vínculo que foi rompido há muitos anos.
Foi o neto de Maria, Gabriel Rocha, um veterinário de 34 anos, quem compartilhou publicamente a história do bolo guardado nas redes sociais, mais precisamente no Twitter.
“Eu já tinha conhecimento sobre esse bolo há bastante tempo. De tempos em tempos, alguém se lembra de sua existência e pede para vê-lo. Acredito que a primeira vez que o vi tenha sido cerca de 15 anos atrás”, compartilhou Gabriel.
De acordo com o relato do neto, o pedaço de bolo nunca foi congelado e aparenta estar bem preservado. “Embora tenha diminuído de tamanho e endurecido, visualmente ele se assemelha bastante ao estado original. Não apresenta nenhum sinal de fungo ou odor desagradável”, explicou Gabriel.
De acordo com a família, o doce remete ao último café que Maria compartilhou com seu pai, em 1970. Essa memória está intrinsecamente ligada ao bolo preservado ao longo dos anos.
Gabriel escreveu: “Em 1970, o pai de Maria fez um bolo de mel e levou-o para a casa dela, onde compartilharam um café juntos. Sobrou um pedaço desse bolo. No dia seguinte, infelizmente, meu bisavô faleceu, e o bolo permaneceu como uma lembrança do último momento que eles passaram juntos.”
Segundo o relato do veterinário, quando ele descobriu o motivo pelo qual o bolo estava guardado na geladeira, inicialmente pensou que fosse uma brincadeira. “Achei que estivessem me pregando uma peça, mas várias pessoas da família acompanharam essa história desde o começo”, afirmou ele.
Em uma entrevista ao UOL, Maria compartilhou que não tinha a intenção de guardar o pedaço de bolo por tanto tempo. “Foi a última coisa que ele preparou com suas próprias mãos. No início, senti pena de jogá-lo fora na primeira semana e acabei guardando. Ele foi ficando na geladeira e permaneceu lá até hoje.”
Maria relata que o último encontro com seu pai deixou lembranças felizes. “Aquele pedaço de bolo de mel me trouxe alegria, pois sempre gostei muito quando ele o preparava. Quando olho para esse bolo, sinto saudades do meu pai e das deliciosas comidas que ele fazia.”
O pedaço de bolo foi testemunha das diversas transformações na vida de Maria. Na época em que se despediu de seu pai, ela residia na Vila Moraes, em São Paulo, e o doce a acompanhou durante a mudança quando ela decidiu se estabelecer em Diadema.
Mesmo após 53 anos, Maria não tem planos de se livrar do pedaço de bolo. “Nunca passou pela minha cabeça jogá-lo fora, pois representa uma memória preciosa do meu pai”, afirma. Atualmente, ela possui duas geladeiras e, quando decide fazer a limpeza de uma delas, transfere o bolo para a outra.
Apesar de valorizar a tradição, Maria não tem expectativas de que seus netos preservem essa herança. “Se eles decidirem descartá-la, têm total liberdade para fazê-lo. Essa lembrança é significativa para mim, mas talvez não tenha o mesmo valor para eles.”
No entanto, Gabriel revela que há até uma disputa entre os filhos e netos sobre quem herdará o bolo. “Acho isso bastante bonito. Naquela época, as fotos não eram tão comuns, então foi a maneira dela de preservar a lembrança”, ele comenta.