Nipah: conheça o vírus mortal que assusta a Índia

Com o fechamento de escolas e instituições públicas, as autoridades do estado de Kerala, no sul da Índia, estão empenhadas em conter a propagação do vírus letal Nipah no país. Até o momento, duas vítimas fatais foram registradas na região devido à infecção, enquanto outros três pacientes, incluindo dois adultos e uma criança, encontram-se hospitalizados após testarem positivo para o vírus.

Conforme as informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Nipah é classificado como um vírus zoonótico, ou seja, é transmitido de animais para humanos. Além disso, a infecção pode ocorrer por meio da ingestão de alimentos contaminados ou, ainda, por transmissão direta entre pessoas.

De acordo com a ministra da Saúde do Estado, Veena George, “estamos conduzindo testes em seres humanos e, simultaneamente, especialistas estão coletando amostras de fluidos em áreas florestais que podem ser o potencial ponto de origem da disseminação”, informou à Reuters.

Segundo as autoridades, quase 800 indivíduos foram submetidos a testes nas últimas 48 horas na região de Kozhikode, em Kerala. George afirmou: “Estamos em uma fase de extrema vigilância e detecção”, acrescentando que 77 pessoas foram identificadas como apresentando alto risco de infecção.

Adicionalmente, amostras de urina de morcego, excrementos de animais e restos de frutas foram coletadas em Maruthonkara, a localidade onde residia a primeira vítima. Esse vilarejo está adjacente a uma floresta de 121 hectares que abriga diversas espécies de morcegos. Durante o primeiro surto na região em 2018, esses morcegos frugívoros, que se alimentam principalmente de frutas, testaram positivo para o Nipah.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as infecções em seres humanos causadas pelo vírus Nipah podem variar desde casos assintomáticos até infecções respiratórias graves, caracterizadas pela incapacidade dos pulmões de fornecer oxigênio adequado ao corpo, e encefalite fatal, que é uma inflamação no cérebro.

Os sintomas iniciais abrangem febre, cefaleia, dores musculares, náuseas e dor na garganta. Além disso, a pessoa afetada pode experimentar vertigem, sonolência, alterações na consciência e sinais neurológicos que apontam para a presença de encefalite aguda. Houve também relatos de pacientes com pneumonia incomum e graves problemas respiratórios, incluindo dificuldades respiratórias agudas.

Em casos mais graves da doença, ocorrem encefalite e convulsões, com a possibilidade de progressão para um estado de coma em um período de 24 a 48 horas. Embora a maioria das pessoas que sobrevive à encefalite aguda se recupere completamente, cerca de 20% dos pacientes enfrentam sequelas neurológicas permanentes.

Atualmente, não há tratamentos medicamentosos ou vacinas direcionados para o combate à infecção pelo vírus Nipah. A recomendação é a aplicação de cuidados de suporte, concentrados na gestão de complicações graves relacionadas à respiração e ao sistema neurológico.

Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o vírus compartilha um mecanismo de transmissão semelhante ao Ebola, que requer proximidade direta, resultando em uma propagação potencialmente mais lenta. O Ebola é uma enfermidade grave com uma alta taxa de letalidade, que causou surtos em partes da África.

Renato Grinbaum, consultor infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que a probabilidade de um vírus com esse método de transmissão se espalhar amplamente, como o coronavírus (que é transmitido pelo ar), é bastante limitada.