Novo medicamento promissor contra obesidade reduz peso em 24% em estudo; ‘milagre’

Um recente estudo sobre a droga retatrutida, que está sendo considerada uma promessa no tratamento de indivíduos com diabetes, demonstrou que o composto em análise resultou em uma notável redução de 24,2% no peso corporal do grupo que recebeu uma dose de 12 mg ao longo de 48 semanas. Em contrapartida, entre os participantes que receberam placebo, a redução foi de apenas 2,1%. Os resultados deste ensaio de fase 2 foram divulgados no periódico The New England Journal of Medicine e apresentados à comunidade científica durante o congresso anual da Associação Europeia de Estudos sobre Diabetes (EASD, na sigla em inglês).

O estudo envolveu a análise de 338 adultos que apresentavam obesidade ou um índice de massa corporal (IMC) entre 27 e 30, além de pelo menos uma comorbidade. A droga pertence à nova geração de medicamentos para obesidade e diabetes, que ganharam notoriedade global, tais como Ozempic e Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), por superarem a marca de perda de peso de 5% a 10% em comparação aos medicamentos mais antigos.

 

obesidade

 

A retatrutida, à semelhança desses fármacos, atua sobre os hormônios associados à sensação de saciedade e ao metabolismo da glicose. No entanto, o que a diferencia é sua ação sobre três desses hormônios. A endocrinologista Alessandra Rascovski, que participou do evento da EASD, explica que enquanto a semaglutida imita o hormônio GLP-1, que influencia nossa sensação de saciedade e está presente em todos esses medicamentos para controle de obesidade e diabetes, a retatrutida, sendo um agonista triplo, também simula outros dois hormônios: o GIP, que melhora a secreção de insulina após uma refeição, e o Glucagon, que eleva os níveis de glicose no sangue, contrapondo-se aos efeitos da insulina.

A expectativa para a próxima fase dos ensaios clínicos (fase 3) é bastante promissora. A comunidade médica aguarda com grande expectativa a possibilidade de oferecer tratamento para a obesidade antes que a condição do paciente se agrave, bem como a chance de indicar a cirurgia bariátrica apenas em casos específicos.

Caso os medicamentos alcancem índices em torno de 30%, poderiam equiparar-se aos resultados obtidos com a cirurgia bariátrica, mas sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos e suas potenciais complicações.Rodrigo Lamounier, diretor do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca a importância dessa nova abordagem no controle da obesidade, um problema de saúde pública significativo. Ele ressalta que os dados para a população americana apontam que em 2030, metade da população adulta dos Estados Unidos estará obesa, e entre os obesos, um a cada quatro terá obesidade grau 3, caracterizada por um IMC acima de 40, o que indica casos de obesidade mais severa.

Rodrigo Lamounier enfatiza que os medicamentos representam uma grande esperança, e a retatrutida tem o potencial de se tornar “o medicamento mais potente para o tratamento da obesidade”. No entanto, ele ressalta a importância de incorporar outras iniciativas, especialmente considerando o alto custo dessas drogas.

Rodrigo Lamounier destaca a importância de implementar políticas públicas voltadas para o aumento do gasto energético e para a melhoria da alimentação da população. Além disso, ele ressalta a necessidade de políticas relacionadas à regulação, tributação e rotulagem de alimentos ultraprocessados. O planejamento das cidades também deve ser considerado, visando facilitar o acesso a locais para caminhar, promover o uso do transporte público e reduzir o tempo passado sentado, o que está diretamente ligado à perda de peso e à redução dos riscos cardiovasculares. Essas são diversas iniciativas que devem ser abordadas de forma integrada.