Na noite desta sexta-feira (sábado, no horário local), ocorreu um conflito entre Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário Wagner, que presta apoio à Rússia na guerra da Ucrânia, e o governo russo. Como resultado desse desentendimento, alguns membros do grupo optaram por realizar manifestações nas ruas do país. Tal situação representa a mais séria crise política interna desde a ascensão de Vladimir Putin ao poder em 1999.
O grupo em questão foi estabelecido em 2014 e uma das suas primeiras operações conhecidas ocorreu na península da Crimeia, na Ucrânia, no mesmo ano. Nessa ocasião, indivíduos identificados como mercenários, sem uniformes distintivos, auxiliaram forças separatistas apoiadas pela Rússia na conquista da região.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, Moscou inicialmente empregou esses mercenários para fortalecer suas forças na linha de frente. Contudo, desde então, passou a depender cada vez mais deles em confrontos críticos, como nas cidades de Bakhmut e Soledar.
Os países ocidentais, como Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE), impuseram sanções ao grupo conhecido como paralimitar, bem como ao seu proprietário, Yevgeny Prigozhin, e à maioria dos seus comandantes.
A empresa de segurança privada conhecida como Wagner já estava estabelecida muito antes do início do conflito na Ucrânia e contava com um contingente de vários milhares de mercenários.
Acredita-se que a maioria desses mercenários fosse composta por ex-soldados de elite altamente treinados. No entanto, à medida que as baixas russas aumentavam durante a guerra na Ucrânia, o proprietário da empresa, o oligarca Yevgeny Prigozhin, com ligações ao Kremlin, começou a expandir o grupo, recrutando prisioneiros, civis russos e até estrangeiros.
De acordo com estimativas, o Grupo Wagner conta com uma força de até 20 mil soldados envolvidos no conflito na Ucrânia. Apesar da sua crescente participação nessa guerra, a eficácia do grupo permanece incerta, com analistas sugerindo que ele sofre um número significativo de baixas sem conseguir conquistar avanços significativos.
De acordo com a Constituição russa, é ilegal o estabelecimento de empresas militares privadas, uma vez que a responsabilidade pela segurança e defesa recai exclusivamente sobre o Estado. Além disso, o Código Penal da Rússia proíbe que os cidadãos atuem como mercenários.
No entanto, existem brechas na legislação russa que permitem a operação do Grupo Wagner. Empresas estatais têm permissão para manter forças de segurança armadas privadas, o que coloca os mercenários em uma espécie de limbo legal, operando em uma zona semi-ilegal.
A Rússia tem enfrentado acusações de utilizar o Grupo Wagner em diferentes países como um instrumento para obter controle sobre os recursos naturais na África, além de exercer influência política e fomentar conflitos em nações estrangeiras, incluindo Líbia, Sudão, Mali e Madagascar. Além disso, há informações sobre a presença de combatentes do Grupo Wagner na Síria.
A Rússia não é o único país que possui empresas militares privadas em atividade. Diversas outras nações, como Estados Unidos, África do Sul, Iraque e Colômbia, também têm empresas militares privadas operando tanto internamente quanto além de suas fronteiras. Muitos desses grupos operam de maneira discreta. Tanto o Tribunal Penal Internacional (TPI) quanto as Nações Unidas têm alertado sobre o aumento do número de mercenários e empresas militares e de segurança envolvidos nos conflitos armados atuais.