O que se sabe sobre o vídeo que mostra crianças em gaiolas e foi associado ao Hamas, sem evidências

Fotos foram postadas no TikTok alguns dias antes do grupo palestino realizar um ataque em Israel. O que está circulando é que o Hamas compartilhou um vídeo que supostamente mostra crianças israelenses sendo mantidas em cativeiro.

O Estadão Verifica conduziu uma investigação e concluiu que não existem provas de que o vídeo que mostra cinco crianças pequenas dentro de gaiolas tenha sido gravado por palestinos e que as vítimas sejam israelenses. A origem das imagens ainda não foi identificada até o momento. No domingo, 8, a agência de checagens israelense FakeReporter afirmou que o vídeo das crianças havia sido publicado alguns dias antes do ataque do Hamas a Israel em uma conta no TikTok, que posteriormente foi desativada. Na segunda, 9, o site espanhol Maldita identificou um segundo vídeo que mostra algumas das mesmas crianças sentadas e livres das grades. Essas imagens foram postadas pelo mesmo perfil do TikTok.

A agência dinamarquesa de verificação TjekDet identificou que pelo menos um dos áudios no conteúdo foi adicionado posteriormente, sendo uma trilha popular entre os usuários do TikTok. Na noite de segunda-feira, 9, o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, declarou em uma entrevista que palestinos estão mantendo crianças em cativeiro, mas não fez menção ao vídeo verificado neste contexto, nem forneceu detalhes adicionais sobre a alegação.

Um vídeo que rapidamente se espalhou no domingo, 8, através de várias redes sociais, incluindo Facebook, Instagram, Twitter e TikTok, apresenta cinco crianças, com cerca de dois anos de idade, em uma gaiola que normalmente é usada para conter galinhas. É visível uma ave no compartimento abaixo onde as crianças estão. O áudio combina vozes infantis com uma trilha sonora instrumental e risos de um homem que supostamente estava gravando as imagens. Não é possível confirmar se esse áudio faz parte do vídeo original. A alegação que acompanha essas imagens sugere que as crianças seriam israelenses mantidas como reféns pelos palestinos.

No último sábado, em 7 de outubro, Israel e o Hamas anunciaram que estavam em conflito, após militantes do grupo palestino realizarem um grande ataque contra Israel, disparando milhares de foguetes contra cidades israelenses, resultando em vítimas civis e fazendo reféns. A imprensa divulgou vídeos que registraram sequestros de israelenses, mas nenhum desses vídeos continha as imagens das crianças mencionadas nesta verificação.

Ainda no domingo, quando o vídeo começou a ser amplamente compartilhado não apenas por usuários brasileiros, mas por pessoas em todo o mundo, a agência de verificação de fatos FakeReporter fez uma postagem em sua conta no X (anteriormente conhecido como Twitter), afirmando que as imagens das crianças já estavam disponíveis online antes do ataque ocorrido no sábado. Uma captura de tela, datada de 8 de outubro, feita pela agência, mostrou que o conteúdo tinha sido publicado quatro dias antes, em 4 de outubro, na última quarta-feira, por um usuário do TikTok. Após a verificação, a conta desapareceu da plataforma.

O Estadão Verifica solicitou informações adicionais à agência, que postou uma atualização na tarde de segunda-feira, 9, incluindo capturas de tela mais detalhadas da postagem original no TikTok e o link, que agora está inativo. Também na segunda-feira, a agência de verificação espanhola, Maldita, conduziu uma investigação sobre o assunto. Ao analisarem as informações compartilhadas pela FakeReporter, os espanhóis acessaram o cache (cópia arquivada) do link da postagem armazenado pelo Google e localizaram um segundo vídeo, enviado pelo mesmo usuário, em 8 de outubro, como resposta a um comentário na postagem original. Nele, parte das crianças que antes estavam enjauladas aparentemente aparece sentada e livre.