Ossada encontrada há oito meses é de jovem trans desaparecida

Durante esse período, a ossada permaneceu sem identificação, e até mesmo o delegado considerou arquivar o caso antes de finalmente descobrir o paradeiro da vítima.

Os restos mortais de Alícia Marques, uma jovem trans de 18 anos, foram identificados como a ossada encontrada em um bosque de Aparecida de Goiânia (GO). Embora tenham sido descobertos em dezembro de 2022, somente nesta sexta-feira (1º/9) foi confirmada a identificação e comunicada à família.

Antes desse momento, durante o período entre a descoberta da ossada e sua identificação, o delegado Jonatas Barbosa da Polícia Civil de Goiás solicitou o arquivamento do inquérito em janeiro de 2023, que ocorreu em menos de um ano após o desaparecimento de Alícia.

No entanto, após uma reportagem que denunciou a tentativa de arquivamento, a promotora Simone Disconsi de Sá Campos, da 7ª Procuradoria de Justiça de Aparecida, ordenou que a investigação continuasse, envolvendo outras unidades da polícia. Um novo delegado, Fabrício Flávio, assumiu o caso e concluiu a investigação.

Alícia foi vista pela última vez na noite de 12 de fevereiro de 2022, em uma distribuidora de bebidas em Aparecida de Goiânia, uma cidade da região metropolitana da capital goiana. Essa distribuidora estava próxima ao bairro onde ela morava com a mãe, a irmã e sobrinhos.

Em 24 de dezembro de 2022, os restos mortais foram descobertos por um pedestre que passeava com seus cachorros. Enquanto um dos animais adentrava uma área arborizada, parte da ossada foi desenterrada, sendo posteriormente identificada por meio de um exame de DNA.

Após a identificação do corpo, a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) executou dois mandados de prisão temporária e realizou três mandados de busca e apreensão. Os detalhes da investigação serão divulgados durante uma coletiva de imprensa na próxima semana, após a conclusão do inquérito.

Um dos investigados detidos reside aproximadamente a 200 metros do local onde o corpo foi encontrado, embora a identidade dos suspeitos não tenha sido revelada.

Após um período de angústia que se estendeu por mais de um ano, Fabrícia Pereira, uma diarista de 40 anos e mãe de Alícia, recebeu a confirmação da morte de sua filha nesta sexta-feira.

As suspeitas em torno do desaparecimento de Alícia deram início às investigações lideradas pela delegada Luiza Veneranda. Ela conduziu uma ampla pesquisa de informações e explorou diversas possibilidades relacionadas ao sumiço da jovem, incluindo análises de quebras de sigilo telefônico.

No entanto, em agosto do ano passado, ela se retirou do inquérito devido a uma distribuição incorreta do caso para uma delegacia fora da área onde ocorreu o crime. Após esse acontecimento, o caso ficou estagnado e esteve perto de ser arquivado sem uma resolução.

Naquela época, surgiram suspeitas de que seu desaparecimento poderia estar relacionado a um possível homicídio cometido por um cliente, já que ela se envolvia em prostituição online, ou talvez por dívidas relacionadas à compra de drogas ilícitas ou a questões com ex-namorados.

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Após a leitura das 340 páginas do inquérito, a reportagem observou que as sugestões feitas pela própria polícia para o andamento da investigação foram negligenciadas.

A Polícia Civil de Goiás solicitou o arquivamento do inquérito relacionado ao desaparecimento de Alícia Marques, uma jovem trans de 18 anos. Isso ocorreu mesmo sem que o paradeiro da garota fosse encontrado e com várias lacunas na investigação que ainda não haviam sido esclarecidas.

A jovem Alícia, cujo nome de registro era Edmar Gustavo Marques Pereira, foi avistada pela última vez na noite de 12 de fevereiro de 2022, em uma distribuidora de bebidas localizada em Aparecida de Goiânia, uma cidade da região metropolitana da capital goiana. Essa distribuidora estava próxima do bairro onde ela residia com sua mãe, irmã e sobrinhos.

Em 26 de janeiro deste ano, o delegado Jonatas Barbosa solicitou o arquivamento do inquérito, poucos dias antes do desaparecimento completar um ano. Sua justificativa era de que a investigação havia alcançado um “impasse” e que o caso deveria ser arquivado “até que novas informações surjam”.

No entanto, o investigador ignorou os relatórios da delegada que inicialmente estava conduzindo a investigação, Luiza Veneranda.

O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público de Goiás (MPGO), que ainda está avaliando se concorda ou não com o pedido de arquivamento.

Após o pedido de arquivamento, a reportagem analisou minuciosamente as 340 páginas do inquérito referente ao desaparecimento. Durante essa revisão, ficou evidente a estagnação da investigação, apesar da jovem não ter sido localizada, e mesmo com indícios que apontavam para a necessidade de dar continuidade à apuração.

A busca pela jovem desaparecida, Alícia, e a angustiada mãe

As investigações referentes ao desaparecimento de Alícia foram iniciadas no mês de fevereiro do ano anterior, sob a liderança da delegada Luiza Veneranda, do 1º Distrito Policial (1º DP) de Aparecida de Goiânia.

O caso ganhou destaque na mídia, que veiculou entrevistas com a mãe de Alícia, Fabrícia Pereira, uma diarista de 40 anos, que estava angustiada enquanto buscava informações e pistas sobre o paradeiro da filha.

“Eu costumo ligar para a delegacia, mas a escrivã da polícia sempre me diz que não podem conversar, que a delegacia está lotada e não podem me receber. Então, eu continuo nessa agonia que parece não ter fim”, desabafou Fabrícia ao Metrópoles na última semana.