A história de Ingrid Vitória, uma menina de apenas 13 anos, tem causado revolta e comoção. Ela foi sequestrada e morta por alguém que, até então, era considerado de confiança pela família. Jocelmo Caldas da Silva, de 36 anos, era vizinho e colega de trabalho do pai dela, Cícero Cipriano da Silva. A dor dessa tragédia tomou conta do velório, realizado no distrito de Caraíba, zona rural de Santa Maria da Boa Vista. Durante a despedida, o pai desabafou, sem conseguir esconder a tristeza e a indignação.
“Meu próprio amigo, o que foi que ele fez comigo? Hoje estou velando a minha filha, triste, sofrendo. Era coisa que a gente não esperava. Total confiança que a gente dava a ele, e ele fazia isso com a gente. Estou sem chão. Sem chão”, lamentou Cícero, a voz embargada pela dor.
O corpo de Ingrid foi encontrado no sábado (29), cinco dias depois do sequestro, ocorrido na terça-feira (25), próximo ao povoado de Caraíbas. A polícia ainda investiga a causa da morte. Já Jocelmo foi morto durante uma troca de tiros na mesma região, a apenas 900 metros do local onde a menina foi achada, conforme relatos de moradores.
O mais chocante dessa história é a proximidade entre o criminoso e a família da vítima. Cícero e Jocelmo se conheciam desde a infância, cresceram juntos no projeto Curaçá NH2, em Itamotinga, Juazeiro (BA), e trabalhavam lado a lado havia pelo menos oito anos. Uma relação construída ao longo da vida que terminou em tragédia.
O sequestro aconteceu de forma brutal. Na manhã daquela terça-feira, Ingrid voltava do projeto Curaçá NH2 com a mãe e o irmão mais novo, de apenas quatro anos. Eles pegaram carona com Jocelmo, algo que já tinham feito outras vezes. Mas, dessa vez, tudo mudou. No meio do caminho, o homem atacou, agrediu e amarrou a mãe da menina, deixando-a sem reação. Depois, colocou Ingrid no porta-malas do carro e fugiu.
Desesperado, Cícero se juntou às buscas pela filha. A caatinga virou um labirinto de esperança e desespero. “Estávamos na mata procurando, na chance de tentar achar ela viva. O elemento nem tanto, nós queríamos era ela, né? Mas não conseguimos completar essa etapa. Ele foi mais perto do que a gente. A mata é difícil da gente trabalhar, só achava mesmo a pé”, contou, ainda tentando entender tudo o que aconteceu.
A dor da perda é algo que não tem explicação. Ingrid era descrita pelo pai como uma menina doce, querida por todos na escola, sempre de bom humor e muito apegada à mãe. “Ela não costumava sair de casa sozinha, sempre ia com a mãe. Era bem legal, amiga de todo mundo”, disse Cícero, como se ainda estivesse tentando encontrar uma explicação para o que aconteceu.
A revolta cresce porque ninguém consegue entender como alguém de confiança, praticamente da família, foi capaz de cometer tamanha brutalidade. “Eu não entendo o que foi que aconteceu, não entendo porque ele fez isso não. Não entendo”, repetiu o pai, com a voz carregada de dor.
Esse crime não é só uma estatística, é um retrato cruel da realidade que muitas famílias enfrentam. A dor de Cícero é a dor de tantos outros pais que perderam seus filhos para a violência. Enquanto a justiça tenta encontrar respostas, a única certeza que fica é que nada vai trazer Ingrid de volta. E o vazio que ela deixou jamais será preenchido.