Pela 1ª vez em 27 anos, repórter ‘secreto’ do Fantástico exibe rosto

No último domingo (20), durante a exibição do programa Fantástico, o público brasileiro teve a oportunidade de finalmente conhecer o rosto do indivíduo conhecido como “repórter secreto” – uma alcunha atribuída a Eduardo Faustini. Este profissional desempenhou um papel significativo na emissora ao se envolver em reportagens investigativas e divulgação de denúncias, embora jamais tivesse se apresentado perante as câmeras. Pouco antes do tão aguardado momento de revelação, o jornalista demonstrou sinais de ansiedade: “Sinto-me extremamente desconfortável. É curioso como, durante o exercício da minha função, eu não experimento esse tipo de sensação [nervosismo]. No entanto, estou ciente de que devo manter a compostura, evitando qualquer tremor ou hesitação”, admitiu.

Durante a entrevista, que foi transmitida como parte das celebrações do 50º aniversário do programa Fantástico, Eduardo compartilhou os motivos que o levaram a escolher não se apresentar diante das câmeras enquanto se dedicava a reportagens especiais.

“É comum que haja uma confusão, onde as pessoas acreditam que a não exposição do meu rosto é uma medida de autopreservação. Entretanto, a verdade é que eu escolhi nunca revelar minha identidade para resguardar a integridade do meu trabalho. A proteção está voltada para a preservação da minha função”, explicou o profissional, que conquistou reconhecimento como um dos jornalistas mais laureados do Brasil.

Com expertise na investigação de situações envolvendo corrupção e delitos policiais, o repórter também enfatizou que o seu anonimato desempenhou um papel fundamental na conquista dos êxitos em suas reportagens.

“Minha falta de reconhecimento público me proporcionou a oportunidade de realizar diversas matérias infiltradas e visitar locais incógnitos. Essa é a razão por trás disso. E agora, creio que chegou o momento de buscar um merecido descanso. Não há mais motivo para permanecer oculto”, acrescentou, enquanto os holofotes do estúdio eram acesos.

Quem é Eduardo Faustini?

Eduardo Faustini figura entre os jornalistas investigativos de maior relevância na contemporaneidade. Iniciou sua trajetória como repórter especializado em investigações na Rede Manchete em 1990, seguindo posteriormente para o SBT dois anos depois. A partir de 1995, ele deu início à sua colaboração na Rede Globo.

“Ele é alguém que sempre mereceu estar nas manchetes”, observou Pedro Bial ao discorrer sobre o significado de Faustini para o programa Fantástico. Utilizando seu anonimato e câmeras dissimuladas, o jornalista se empenhava, primordialmente, em investigar alegações de corrupção.

No ano de 2002, Faustini empreendeu uma investigação acerca de um esquema de apropriação indevida de salários em um gabinete municipal no interior do estado do Rio de Janeiro. Conforme destacado pelo jornalista, essa foi a ocasião inaugural em que o termo “rachadinhas” foi mencionado na televisão.

Graças às suas reportagens, o repórter acumulou um conjunto de prêmios ao longo de sua trajetória profissional, incluindo o Prêmio Esso de Jornalismo, o Grande Prêmio Líbero Badaró e o Prêmio Embratel.

Na edição mais recente desse prêmio, Faustini foi agraciado com o troféu inaugural da categoria Tim Lopes, que foi estabelecida para celebrar a memória de outro proeminente jornalista investigativo brasileiro. Naquela ocasião, o repórter foi honrado por sua exposição da ‘Máfia das funerárias’, um conluio que implicava médicos e casas funerárias na emissão de atestados de óbito adulterados.

A partir de 2014, ele assumiu a liderança da série intitulada “Onde foi parar o dinheiro?”, na qual se dedicou a investigar esquemas de apropriação indevida de fundos públicos. Uma das denúncias que obteve notoriedade dizia respeito a obras interrompidas em Cuiabá para a Copa do Mundo de 2015. Faustini revelou que uma quantia de R$ 640 milhões havia sido desviada de projetos que permaneciam inacabados.

Ao estar presente no programa Fantástico no último domingo, o jornalista abordou a natureza da responsabilidade e as implicações de suas ações profissionais. “Indivíduos enfrentam processos judiciais, prisões ocorrem, empresas encerram suas atividades, e relações matrimoniais se desfazem como resultado. Eu estava ciente do peso dessa carga de responsabilidade. Tenho plena compreensão de que isso teve um impacto em minha família, minha esposa e meu filho, ainda que eles jamais tenham me questionado sobre isso”, compartilhou.

Faustini ficou visivelmente emocionado ao relatar que seu filho precisou frequentar a faculdade com a presença de policiais junto à sala de aula. “Esse aspecto também existe, não posso negar que ocorreu e fez parte da minha jornada. Agradeço sinceramente por estar aqui e sinto apenas gratidão”, expressou.

O jornalista comunicou sua decisão de se afastar do programa depois de 26 anos em uma postagem feita no Twitter no ano de 2021. “Saio com a sensação de dever cumprido e com um profundo sentimento de gratidão pelo carinho demonstrado pelos meus colegas de todo este vasto país. Não imaginava ser tão bem quisto. Isso, sem dúvida, é o maior legado que consegui construir”, escreveu na ocasião.