Na manhã desta quinta-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu de última hora mudar o local do evento onde seria anunciado um novo programa habitacional voltado pras famílias da Favela do Moinho, região central de São Paulo. O que ia acontecer num galpão do MST, acabou sendo transferido pra dentro da própria comunidade, ali mesmo, às 14h.
A decisão veio após uma crítica do próprio presidente sobre a falta de presença popular no evento fechado, que tava marcado num galpão distante da favela. Segundo fontes próximas do Planalto, Lula ficou incomodado com o fato do anúncio — que tem tudo a ver com o povo — ser feito longe de quem realmente seria beneficiado. “Não tem povo, não tem porquê”, teria dito ele a assessores.
O galpão, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, foi inicialmente escolhido por razões de segurança e logística. Era mais fácil controlar acesso, montar estrutura, essas coisas. Mas não adiantou muito diante da visão política de Lula, que bate sempre na tecla de que o governo tem que tá perto do povo, sentir o calor da comunidade. Então, decidiram voltar pro plano original: fazer o evento direto na favela.
O anúncio vai formalizar o acordo entre o governo federal e o estado de São Paulo pra garantir moradia pra dezenas de famílias da Favela do Moinho. O programa, chamado Compra Assistida, já foi usado no Rio Grande do Sul depois das enchentes que devastaram boa parte das cidades do interior e também a capital, Porto Alegre, entre maio e junho desse ano. A ideia é permitir que as famílias escolham casas ou apartamentos já prontos, com valor de até R$ 250 mil.
O governo federal vai bancar R$ 180 mil por moradia, enquanto o governo paulista entra com os R$ 70 mil restantes. A divisão de custos foi fechada após semanas de negociação entre os dois governos. A ministra das Cidades, Jader Barbalho Filho, também participa da cerimônia, junto com representantes de movimentos de moradia e lideranças da própria comunidade.
É mais uma tentativa do governo Lula de reforçar sua imagem junto aos mais pobres — uma base histórica do PT — e também mostrar presença em São Paulo, estado onde o presidente tem enfrentado resistência e onde o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem ampliado sua base de apoio.
Vale lembrar que a Favela do Moinho é uma das mais antigas da capital paulista e já foi palco de vários incêndios, remoções e promessas não cumpridas. A ida de Lula até lá tem um peso simbólico forte, ainda mais depois das críticas que o governo recebeu por, segundo opositores, demorar a reagir aos problemas de moradia nas grandes cidades.
Alguns moradores, aliás, já tavam céticos com o tal programa, achando que seria “mais do mesmo”. Mas agora, com o presidente vindo pessoalmente e falando diretamente com a comunidade, a expectativa mudou um pouco. “Se ele tá vindo aqui, talvez agora vá”, disse dona Maria de Lourdes, moradora há 27 anos da região.
O evento deve contar com apresentações culturais, falas de lideranças locais e, claro, um discurso de Lula. Não se sabe ainda se o presidente vai caminhar pelas ruas da comunidade ou manter distância por questões de segurança. Mas só de ir até lá, já é algo que marca diferença.
Se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer. Mas, pelo menos por hoje, o povo da Moinho vai ter a chance de ser ouvido — e isso, por si só, já é um começo.